PESQUISA

Jovens são maioria das vítimas de violências e acidentes no Brasil

Jovens são a maioria das vítimas de violências e acidentes no Brasil. É o que mostra um boletim divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) nesta segunda (25).

Jovens são a maioria das vítimas de violências e acidentes no Brasil. É o que mostra um boletim divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) nesta segunda (25).
Reprodução

Jovens são a maioria das vítimas de violências e acidentes no Brasil. É o que mostra um boletim divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) nesta segunda (25).

A pesquisa usa dados do SUS (Sistema Único de Saúde) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2022 e 2023, para determinar a incidência de violência e a taxa de mortalidade na população de 15 a 29 anos.

Conforme o levantamento, 65% dos óbitos na faixa etária observada resultam das chamadas causas externas agressões e acidentes.

A taxa de mortalidade por esses motivos para jovens é de 185,5 para 100 mil habitantes, maior do que a da população geral (149,7). Ela é ainda mais alta no recorte entre 20 e 24 anos (218,2).

Agressões, físicas ou com arma de fogo, e acidentes de trânsito têm peso significativo nas causas de mortalidade do grupo. Ataques a tiro são os que mais vitimam jovens do sexo masculino e feminino.

Fatalidades ao dirigir matam principalmente os homens, 84% das vítimas. Na metade desses casos, o meio de transporte foi a motocicleta.
A ação da polícia também tem participação significativa na morte de jovens, resultando em 3% dos óbitos.

Mortes violentas atingem mais os jovens do sexo masculino, cuja taxa de mortalidade é oito vezes maior do que a das mulheres. Homens entre 20 e 24 anos são os mais atingidos, com 390 óbitos para cada 100 mil habitantes.

VIOLÊNCIA E SEXISMO
Segundo a Fiocruz, a principal forma de violência sofrida por jovens brasileiros é a agressão física (47%), seguida da violência psicológica (15,6%) e violência sexual (7,2%). Quanto mais velha a vítima, maior a proporção de violência psicológica. Mais jovem, maior a proporção de violência física.

As maiores vítimas das violências notificadas pelo SUS são as mulheres, tanto em termos proporcionais como na taxa de incidência, em todos os estados, especialmente dos 15 aos 19 anos. O sexismo aparece como a motivação mais frequente das ocorrências, correspondendo a 23,7% delas.

Mulheres também sofrem ataques fatais mais diversificados, com destaque para homicídio por estrangulamento. Além disso, as mulheres dos 15 aos 29 anos são mais assassinadas em casa (34,5% das ocorrências). Para os homens, o maior risco está nas ruas (57,6%).

NEGROS E JOVENS COM DEFICIÊNCIA SOFREM MAIS
Jovens pretos e pardos representam mais da metade das vítimas, 54,1%. O risco de morte por causas externas entre jovens homens negros chega a 227,5 para cada 100 mil habitantes, sendo 22% maior que a taxa do conjunto da população jovem (185,5), e 90% maior que a taxa de mortalidade de jovens brancos e amarelos.

A diferença é ainda mais acentuada na faixa dos 15 aos 19 anos. As taxas de mortalidade por causas externas para negros (161,8 óbitos para cada 100 mil habitantes) são praticamente o dobro das taxas para brancos (78,3) e amarelos (80,8).

Também é relevante a violência contra jovens com deficiência. Os casos contra eles representaram 20,5% das notificações de violências registradas pelo SUS. Na população geral, as vítimas com deficiência representam 17,6% do total. Os tipos de deficiências mais vitimadas foram relacionados à saúde mental.

“O direito à vida tem sido uma bandeira dos movimentos juvenis contemporâneos, exatamente pelo fato de que a juventude tem sido o segmento bastante afetado pela violência letal”, diz o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho.

“É preciso seguir apontando os dados alarmantes e, mais que isso, afetar as causas que têm a ver em como a sociedade vê os jovens e a ausência de políticas públicas que garantam a proteção dessa população.”

REGIÕES E ESTADOS
O levantamento ainda indicou que o maior risco de morte por violências e acidentes na juventude ocorre nos estados do Nordeste e do Norte, com destaque para a faixa entre 20 e 24 anos do Amapá (447 óbitos para cada 100 mil habitantes) e na Bahia (403).
As unidades da federação com as maiores taxas de violência por cem mil habitantes na juventude são o Distrito Federal (696,1), o Espírito Santo (637,8), o Mato Grosso do Sul (629,5) e Roraima (623,5). Na população brasileira, a taxa é de 250,6 para cada 100 mil habitantes.