POLÊMICA

Jornalista Milly Lacombe é barrada em festival literário em São Paulo

Nas redes sociais, a equipe curatorial da festa classificou a exclusão de Lacombe como “decisão arbitrária”, que inviabilizou a continuidade de sua atuação no projeto.

Reprodução
Reprodução

A tradicional Festa Litero Musical (Flim) de São José dos Campos (SP), prevista para o próximo fim de semana, foi adiada pela organização após a polêmica envolvendo a jornalista Milly Lacombe, cuja participação foi cancelada pelo prefeito da cidade. No fim de agosto, durante uma entrevista a um podcast, ela criticou o modelo de “família tradicional”, classificando-o como “base do fascismo”.

Nas redes sociais, a equipe curatorial da festa classificou a exclusão de Lacombe como “decisão arbitrária”, que inviabilizou a continuidade de sua atuação no projeto. O escritor Xicó Sá, convidado para o evento, também cancelou sua participação e declarou solidariedade à jornalista, afirmando que ela foi “censurada e silenciada politicamente (a pedido da extrema direita) pela Prefeitura de São José dos Campos”.

Após o cancelamento, Milly Lacombe publicou um vídeo no Instagram, afirmando lutar “por um mundo em que a família seja um lugar sem hierarquias, sem papéis de gênero e sem relações de poder” e esclarecendo que suas falas no podcast “foram tiradas de contexto”. Segundo ela, o modelo de “família tradicional” contribui para a exclusão de pessoas LGBTQIAP+.

O prefeito Anderson Farias (PSD) justificou a decisão, afirmando que “nossos espaços não serão usados como palanque contra a família e valores da cidade” e que “a cultura em São José não é e nunca será palco político-ideológico”. Em nota, a Prefeitura informou que a Flim será realizada em nova data, ainda não definida.

Repercussão
O Ministério da Cultura (MinC) repudiou o cancelamento, classificando o caso como “grave cerceamento à diversidade de pensamento necessária em nosso convívio social e, em especial, em eventos culturais que discutem temas urgentes para a sociedade”. O MinC solicitou informações detalhadas sobre o episódio, destacando que a Flim foi financiada com recursos da Lei Rouanet, que veda critérios subjetivos para avaliações.

Entenda a polêmica
Em agosto, no podcast Louva a Deusa, Milly Lacombe afirmou:

“Gente, assim, eu não quero falar contra o amor romântico, mas eu vou falar… Esse negócio de família tá f****** a gente. Família é um núcleo produtor de neurose…”

Ela completou:

“Essa família tradicional, branca, conservadora, brasileira é um horror. É a base do fascismo, falemos a verdade, né?”

A jornalista também criticou o lema “Deus, Pátria e Família”, associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), chamando-o de slogan fascista:

“Ele assinou cartas com esse lema, para quem não tivesse entendido, ele deixou bastante claro o que ele é, o que ele representa.”