
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) avançou a passos largos, tornando-se uma ferramenta presente em diversos aspectos da vida cotidiana. Entre suas inúmeras aplicações, destacam-se como assistentes de escrita, editores automáticos, geradores de texto e corretores gramaticais. Embora essas tecnologias ofereçam praticidade e eficiência, muitos especialistas têm levantado um alerta preocupante: o uso excessivo da IA pode representar uma ameaça ao aprendizado da escrita, especialmente entre estudantes e jovens em fase de formação acadêmica.
A escrita é uma habilidade fundamental não apenas para a comunicação, mas também para o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade e da capacidade de argumentação. Aprender a escrever exige esforço, reflexão e prática. No entanto, com o uso frequente de inteligências artificiais que “pensam” e “escrevem” pelo usuário, corre-se o risco de enfraquecer essas competências. Ao depender de sistemas automatizados para redigir textos, muitos estudantes deixam de exercitar a construção autônoma das ideias, a coesão textual e a estruturação lógica do pensamento.
Para compreender melhor essa questão, conversamos com a professora de redação Treicy Castro. Segundo ela, é inegável que o mundo está mais tecnológico, e a IA já está inserida no contexto educacional. “Com o advento do meio técnico-científico e informacional, mudanças são inevitáveis. Precisamos, enquanto profissionais, conhecer essas ferramentas para saber como utilizá-las e identificar quando nossos alunos estão utilizando-as nas produções — o que não é muito difícil, pois um texto produzido pela IA tem características bem específicas”, afirmou.
Além disso, a IA pode mascarar dificuldades que deveriam ser enfrentadas no processo de aprendizagem. Por exemplo, um estudante que utiliza uma IA para escrever uma redação pode obter um texto coerente e bem estruturado, mas isso não significa que ele tenha, de fato, aprendido a escrever. A avaliação, nesse caso, torna-se ilusória, prejudicando o desenvolvimento real da competência linguística.
Por outro lado, não se pode ignorar os benefícios da tecnologia. Ferramentas baseadas em IA podem ser aliadas poderosas no ensino da escrita, desde que utilizadas de forma crítica e orientada. Quando bem aplicadas, elas ajudam na revisão de textos, oferecem sugestões de vocabulário e até contribuem para o enriquecimento do estilo textual. O desafio, portanto, não está na existência da IA, mas no modo como ela é incorporada ao processo educacional.
A professora Treicy também compartilhou suas observações em sala de aula. “Sem dúvidas, estamos diante de um grande desafio, visto que tenho percebido estudantes recorrendo cada vez mais à inteligência artificial, por preguiça mesmo de simplesmente pensar. Noto cada vez mais dificuldade no processo de interpretação textual, além de bloqueios em relação à escrita quando o uso do celular é impossibilitado”, explicou.
Ela também alertou para os riscos do uso indiscriminado da IA: “O uso excessivo de ferramentas como o ChatGPT pode ser prejudicial para o desenvolvimento acadêmico dos alunos. Tenho observado dificuldade na interpretação de textos simples, por exemplo, além de falta de concentração”.
A inteligência artificial representa tanto uma oportunidade quanto um risco para o aprendizado da escrita. A chave está no equilíbrio: é preciso incentivar o uso consciente e pedagógico dessas tecnologias, sem abrir mão da prática ativa da escrita. Caso contrário, corremos o risco de formar uma geração que sabe “copiar e colar”, mas não sabe pensar e expressar-se com autonomia.
Apesar dos desafios, Treicy acredita que proibir o uso da IA não é a solução. “Já ficou provado por meio de outras tecnologias que proibir não é o caminho. Vale ressaltar que ainda temos pouca experiência com o uso do ChatGPT na educação para identificar qual seria a postura mais adequada das instituições de ensino. Se por um lado a ferramenta pode ajudar estudantes com ideias, também pode trazer informações erradas. Neste sentido, se o aluno não tiver um conhecimento prévio do assunto e não buscar outras fontes de informação, poderá entender de forma equivocada assuntos importantes para sua formação.”
Por fim, a professora ressalta a importância do papel das instituições: “Neste ponto, é muito importante que a instituição incentive o pensamento crítico e a pesquisa nos alunos”.