Cristiane Gercina/Folhapress
A diarista Denise Batista da Silva, 35, espera há quase um ano pelo salário-maternidade do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) após o nascimento de sua filha Lorena, hoje com dez meses. Lorena nasceu em 15 de abril de 2022 e, desde então, a diarista vive uma saga para ter acesso ao benefício.
O pedido foi feito poucas semanas antes de Lorena nascer, mas foi negado por falhas no Meu INSS que a impediram de enviar os documentos. Com a filha recém-nascida foi a um atendimento presencial em agência da Previdência, na zona sul de São Paulo, onde mora. Lá foi orientada a recorrer da negativa, mas até agora o pagamento não foi liberado.
“Fiquei sem dinheiro e tive que pegar emprestado”, conta ela, que parou de trabalhar nos primeiros meses de vida de Lorena.
Denise integra a fila da Previdência Social, que tem hoje 1,793 milhão de segurados aguardando resposta a um pedido. A fila se divide em duas frentes: solicitações de benefícios como aposentadoria, pensão e pedidos de perícia médica.
Do total, 1,231 milhão de segurados estão na fila do INSS. Na espera pela perícia médica, há 576, 4 mil cidadãos aguardando o exame que poderá dar acesso a benefícios por incapacidade.
Os dados, de janeiro de 2023, apontam aumento da fila do INSS, que em dezembro tinha 1,087 milhão ode segurados. O tempo médio de espera nacional para a conclusão de pedidos também subiu de 79 dias, em dezembro de 2022, para 85 dias, em janeiro deste ano.
Em nota, o Ministério da Previdência Social, por meio do INSS, afirma que “segue trabalhando para garantir o aumento na quantidade de processos analisados por mês”.
“No momento, as equipes estudam todos os processos internos para um diagnóstico da situação atual, visando a proposição de novas medidas que colaborem com a redução do estoque e do tempo médio de concessão”, diz o instituto.
Ministro da Previdência diz querer zerar fila do INSS até o final do ano
A fila de benefícios é apontada por representantes de aposentados e trabalhadores como um dos principais problemas a ser enfrentado pelo atual governo. Os dados são polêmicos. Ao STF (Supremo Tribunal Federal), a AGU (Advocacia-Geral da União) informa haver ao menos 5 milhões de segurados que aguardam algum tipo de atendimento da Previdência.
“Outro aspecto de suma importância diz respeito ao atual momento em que o INSS busca reorganizar sua agenda de atendimento regular de benefícios requeridos administrativamente, que atualmente encontra-se pendente de atendimento cerca de 5 milhões de segurados”, diz trecho de pedido protocolado na ação de revisão da vida toda.
Em encontro com representantes do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados), da Força Sindical, e da UGT (União Geral dos Trabalhadores) na sexta-feira (17), na capital paulista, o ministro Carlos Lupi debateu estratégias para tentar zerar a fila até o final do ano. A ideia é dar início a um mutirão de perícias a partir de março.
“Nós temos em torno de 1 milhão e 700 mil pessoas, cidadãos e cidadãs, aguardando a resposta da Previdência Social. Estou separando cerca de 550 mil que dependem de uma perícia. São beneficiários do BPC [Benefício de Prestação Continuada], pessoas que sofrem algum acidente, o salário-maternidade, para fazer um mutirão nas áreas onde já temos uma fotografia dessa situação mais grave”, disse.
Para João Inocentini, presidente do Sindnapi, a situação atual da fila tem a ver com a forma como os atendimentos no INSS foram tratados pela antiga gestão. “Essa fila é um gesto do governo anterior, que travou todos os benefícios e pagou força-tarefa das Forças Armadas para dar um carimbo negando [benefícios]”, afirmou, referindo-se à contratação de militares aposentados pelo antigo governo.
“O INSS não está conseguindo reduzir a fila, pois não consegue sequer avaliar tudo que está chegando”, diz o advogado Diego Cherulli, vice-presidente do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), que vem acompanhando a situação.