LORENA BARROS, LUANA TAKAHASHI E TIAGO MINERVINO
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Os influenciadores Igor de Oliveira Viana e Ana Vitória Alves dos Santos são alvos de investigação da Polícia Civil de Goiás por suspeita de cometerem uma série de crimes contra a filha de dois anos, que tem paralisia cerebral.
Igor é investigado diretamente por cinco tipificações criminosas: maus-tratos; causar constrangimento à criança; incitar discriminação contra a pessoa com deficiência; estelionato e desvio de proventos da pessoa com deficiência. Ana Vitória, por sua vez, é investigada diretamente por estelionato.
Polícia também investiga se Ana foi omissa em relação a supostos crimes cometidos pelo pai contra a filha. Conforme a Polícia Civil de Goiás, as atitudes do pai foram praticadas enquanto ele ainda vivia com a mãe da menina e, portanto, embora ela não seja a autora direta dos crimes, pode responder por omissão.
Pai causou constrangimento à filha em vídeos expostos nas redes. Segundo a investigação, Igor usou termos pejorativos para se referir à criança. Nesse mesmo contexto, Viana é suspeito de incitar a discriminação contra a pessoa com deficiência porque suas falas não atingem apenas a filha, mas todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência.
Os pais ainda são investigados pela suposta prática de estelionato. Segundo a delegada responsável pelo caso, Aline Lopes, há indícios de que Igor e Ana simulavam que a filha precisava de doações para custear tratamento, mas usavam as verbas doadas com outras coisas. A mãe, inclusive, teria feito intervenções estéticas com o dinheiro doado.
A defesa do influencer disse à reportagem que não poderá prestar informações detalhadas devido ao sigilo do processo. Em nota, ainda informou que o ”caso será esclarecido para a sociedade e o investigado provará sua inocência por meio de provas”. A defesa de Ana Vitória disse que ela se apresentou “espontaneamente” à delegacia para “prestar todos os esclarecimentos que o caso requer”, e reiterou que ela irá “provar sua inocência”.
ENTENDA O CASO
Igor Viana se identifica nas redes sociais como “Pai da Soso” e “servo do Deus vivo”. O influenciador acumula milhares de seguidores nas plataformas digitais, em que relata a rotina com a filha com paralisia cerebral, além de usá-las para angariar doações que, supostamente, seriam revertidas para os cuidados da criança.
Viana se tornou alvo de investigação em 19 de junho, após denúncias serem feitas contra ele na delegacia de Anápolis. Segundo a delegada responsável pelo caso, Aline Lopes, as primeiras queixas contra Igor foram por maus-tratos devido ao modo como ele trata a filha nos próprios vídeos.
Pai chamou a filha de “criança inútil do car**** em uma trend” nas plataformas, conforme a delegada. À reportagem, Lopes explicou que, dentro do contexto em que Igor é investigado, esse tratamento destinado à criança pode se caracterizar como crime de maus-tratos. Na bio de seu perfil no Instagram, Igor afirma que “Deus dá crianças especiais para pais especiais”.
MÃE É INVESTIGADA
Ana Santi teria usado dinheiro de doação para fazer intervenções estéticas no corpo, segundo a investigação. “Há informação de que a mãe teria feito cirurgia plástica com esse dinheiro”, esclareceu a delegada.
Ela negou que tenha usado o dinheiro das doações para este fim. Na versão da mãe à polícia, ela disse que realizou uma rinomodelação a partir de uma permuta com a clínica responsável pelo procedimento.
Uma testemunha, no entanto, afirma que Ana usou o dinheiro doado. ”Nós temos uma testemunha que disse que a própria Ana falou que pagou pelo procedimento. Isso vai ser confirmado em depoimento”, completou a delegada Aline Lopes.
BRIGAS FORJADAS
Ana teria assumido em depoimento que as brigas do casal eram combinadas. ”O Igor dizia que era assim que eles conseguiriam mais visualizações e mais monetização”, contou a delegada. Em depoimento para a polícia, a mãe da menina também teria dito que os conflitos eram gerados para comover os seguidores, e que o dinheiro recebido era dividido entre os dois.
Ana Santi ainda disse à delegada que ela e Igor nunca tiveram um relacionamento. A mulher alegou que ”Sofia foi fruto de uma noite apenas e resolveram morar juntos no início para diminuir as despesas”.
Em acordo informal, ficou decidido que a filha moraria com o pai. Não há processo judicial pela guarda da criança.
Conselho Tutelar retirou a filha dos cuidados do pai. A criança foi encaminhada para a casa da avó paterna.