LEVANTAMENTO

Inflação de alimentos recua, mas luz e água mantêm pressão sobre famílias

Conclusão é do Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos Alimentos, divulgado nesta segunda-feira (15) pelo Instituto Pacto Contra a Fome.

Foto: Dalilão
Foto: Dalilão

Apesar da queda no preço dos alimentos em junho, os custos com moradia continuam pressionando o orçamento das famílias brasileiras, especialmente as de baixa renda. A conclusão é do Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos alimentos, divulgado nesta segunda-feira (15) pelo Instituto Pacto Contra a Fome.

Pela primeira vez em nove meses, o grupo Alimentação e Bebidas registrou deflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com variação de -0,18%. Produtos básicos como ovos (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas como a laranja-pera (-9,19%) apresentaram queda de preços. O recuo é atribuído à safra recorde de grãos em 2025 e à valorização do real, que reduziu o custo de insumos importados.

Por outro lado, os grupos Habitação (+0,99%) e Transportes (+0,27%) voltaram a subir, com destaque para a energia elétrica residencial, que teve alta de 2,96%, e as tarifas de água e esgoto, com aumento de 0,59%. Esses gastos são considerados “incomprimíveis”, ou seja, não podem ser adiados ou reduzidos, o que pode forçar famílias a fazerem cortes em outras áreas, como a alimentação.

“Essa queda nos preços dos alimentos é um respiro bem-vindo para milhões de famílias que vinham sentindo o peso da alta contínua nos últimos meses. No entanto, o alívio nas gôndolas não significa que o orçamento parou de apertar”, afirma Ricardo Mota, gerente de Inteligência Estratégica do Pacto Contra a Fome.

Segundo Mota, o cenário atual aponta para uma mudança na composição da inflação, e não para uma desinflação de fato. “A conta de luz e água segue subindo, e isso pode obrigar as famílias mais vulneráveis a escolher entre pagar contas básicas ou garantir uma alimentação de qualidade”, alerta.

Cesta saudável mais acessível

O boletim também apresentou a evolução do custo da chamada “cesta NEBIN”, composta por alimentos in natura e minimamente processados. Em junho, o valor da cesta foi de R$ 423 por pessoa, abaixo dos R$ 441 registrados em maio e dos R$ 432 em abril, quando o indicador foi lançado. Em relação ao mesmo período de 2024, o custo também é menor, o que indica um leve avanço na acessibilidade à alimentação saudável.

Ainda assim, a análise da elasticidade-renda mostra que itens como frutas e laticínios continuam sendo sensíveis ao poder de compra. Já alimentos básicos como arroz e feijão, mesmo com queda de preços, permanecem como prioridade nas compras das famílias mais pobres. O levantamento reforça a importância de políticas públicas de apoio à renda, como o Bolsa Família, para garantir não apenas o acesso a alimentos, mas também a qualidade nutricional das refeições.

Alerta e atuação

O Pacto Contra a Fome destaca a importância do monitoramento contínuo da inflação e a necessidade de políticas públicas sensíveis à realidade das famílias mais vulneráveis. “A meta de erradicar a fome até 2030 é possível, mas depende da união de forças entre governos, setor empresarial, terceiro setor e sociedade civil”, afirma Geyze Diniz, cofundadora e presidente do Conselho do Instituto.

Sobre o Pacto Contra a Fome:
A iniciativa é uma coalizão suprapartidária e multissetorial que atua para erradicar a fome no Brasil, promover o acesso à alimentação adequada e combater o desperdício de alimentos. Com metas até 2040, o Pacto trabalha com foco em articulação, inteligência estratégica e incentivo a políticas estruturais.

Mais informações e detalhes sobre os projetos estão disponíveis no site: www.pactocontrafome.org.