LUCAS MARCHESINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira (8) os dois indicados do governo para compor a diretoria do Banco Central.
Com a entrada dos escolhidos, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá pela primeira vez nomes próprios a participar diretamente das decisões relacionadas à taxa básica de juros -cujo patamar é alvo de ferrenhas críticas do mandatário.
Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda, foi escolhido para assumir a diretoria de Política Monetária da autarquia. Já Ailton de Aquino Santos, servidor do BC, foi indicado para a área de Fiscalização.
Galípolo é um dos auxiliares mais próximos de Haddad e já era ouvido por Lula nas questões econômicas desde o período pré-campanha eleitoral.
Uma de suas primeiras aparições se deu ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que o levou para um jantar com empresários em abril de 2022. Na ocasião, sua fala em defesa do diálogo entre governo e mercado foi bem recebida.
Hoje, Galípolo ajuda a conduzir todas as discussões estratégicas do Ministério da Fazenda e esteve diretamente envolvido na elaboração do novo arcabouço fiscal e nos pacotes de medidas para reequilibrar as contas públicas.
O anúncio é feito em meio a uma insatisfação do Palácio do Planalto, do Ministério da Fazenda e em grande parte do PT com as decisões do BC, vistas como prejudiciais à atividade enquanto o governo vê a melhora da economia como crucial para a consolidação de apoio popular e político.
Na última quarta-feira (3), por exemplo, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC não alterou sua estratégia e manteve a Selic em 13,75% ao ano, em sua primeira decisão após a apresentação do novo arcabouço fiscal.
O colegiado do BC voltou a dizer que a conjuntura demanda “paciência e serenidade” e ainda manteve a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevar os juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
Na quinta-feira (4), Lula voltou a fazer críticas à maneira como é feita a discussão sobre juros no Brasil e mandou novo recado a Roberto Campos Neto, presidente do BC. O chefe do Executivo disse que “todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros”. “Como se um homem sozinho pudesse saber mais que a cabeça de 220 milhões de pessoas”, acrescentou.
O Ministério da Fazenda planeja que o BC comece a absorver novas visões sobre a política monetária com a entrada dos novos nomes. Além disso, pretende que a entrada de Galípolo possa representar uma transição ainda mais significativa -podendo ele, futuramente, assumir o lugar do atual presidente do BC, (cujo mandato vai se encerrar em dezembro de 2024).
O ministro foi perguntado logo após o anúncio se Galípolo traria o pensamento do PT para o Copom e se realmente conseguira mudar o rumo das discussões. Haddad respondeu que seu secretário-executivo não é filiado ao PT e que não vai representar o pensamento do partido no colegiado.
“Ele está indo para lá com a autonomia necessária para cumprir a lei, a mesma lei que os outros sete membros do Copom têm que respeitar”, afirmou Haddad.
O ministro também anunciou quem substituirá Galípolo na Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda caso seu nome seja aprovado para compor a diretoria do BC. O escolhido foi Dario Durigan, que foi assessor especial de Haddad quando ele foi prefeito de São Paulo e hoje trabalha no WhatsApp no Brasil.
De acordo com Haddad, o anúncio de Galípolo só não foi feito antes porque esperava uma conversa com Durigan para que sua escolha para a Secretaria-Executiva fosse divulgada ao mesmo tempo. Essa conversa aconteceu no fim de semana.
O ministro buscou ligar o nome de Galípolo a alguém ligado ao mercado, dizendo inclusive que a primeira pessoa a sugerir o nome para a autoridade monetária foi Campos Neto.
“A primeira vez que ouvi o nome do Galípolo no BC partiu do Roberto Campos Neto. Estava no G20 na Índia, fomos almoçar juntos e foi a primeira pessoa que mencionou o Galípolo no BC no sentido de entrosar as equipes [do BC e da Fazenda]. Depois dele, muitas outras indicaram [ele]”, disse Haddad.
“Todo mundo é testemunha do esforço feito de parte a parte no sentido de permitir coordenação maior das políticas fiscais e monetárias, dar um direcionamento único”, avaliou. “Sempre fui um crítico do divórcio da política monetária e fiscal, até porque uso sempre a metáfora de que são braços do mesmo organismo trabalhando para o mesmo propósito”, continuou.
Há hoje duas vagas em aberto na diretoria do BC, justamente as áreas de Política Monetária e Fiscalização. No fim do ano, mais dois mandatos se encerram e o governo poderá indicar novos nomes.
Conforme a lei da autonomia do BC, aprovada em 2021, cabe ao presidente da República a indicação dos nomes dos diretores. Posteriormente, os indicados passam por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Os nomes são, então, levados ao plenário para aprovação.
Haddad deve se encontrar nesta semana com o relator da proposta do novo marco fiscal na Câmara, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), de acordo com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais). A previsão é que o texto do relator seja apresentado nos dias 10 ou 11. O governo espera votar a proposta na próxima semana.