Dois professores da rede pública de Florianópolis foram vítimas de agressões físicas e intimidações atribuídas a integrantes de um movimento político de extrema direita. O caso ocorreu nas proximidades de uma escola no bairro São João do Rio Vermelho e está sendo investigado pela Polícia Civil de Santa Catarina.
As vítimas — identificadas como Juliana Andozio e Andrei Dorneles — relataram que foram atacadas com socos e chutes após uma série de ameaças recebidas por redes sociais e grupos de pais ligados a movimentos autodenominados “conservadores”. Segundo os docentes, a violência teve motivação política e ideológica.
“Eles começaram a nos perseguir por discordarem das atividades pedagógicas e das pautas de diversidade que defendemos na escola. Chegaram a nos chamar de doutrinadores e comunistas”, contou uma das professoras, que registrou boletim de ocorrência.
O episódio expôs a escalada de hostilidades em torno do debate sobre a militarização das escolas públicas e temas ligados à inclusão e diversidade. Professores afirmam ser alvo constante de ataques de um grupo chamado “Pais Conservadores de Floripa”, que tem organizado manifestações e campanhas contra educadores.
Segundo o portal ICL Notícias, os professores já haviam denunciado ameaças anteriores. As agressões teriam sido estimuladas por discursos públicos de figuras políticas locais, incluindo o vereador João Paulo Ferreira, conhecido como Bericó, citado em relatos como incentivador da hostilidade contra os docentes. O parlamentar nega as acusações.
Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte/SC) repudiou o ataque e pediu apuração rigorosa. “É inaceitável que o espaço escolar, que deve ser de diálogo e aprendizado, se transforme em campo de perseguição ideológica”, diz o texto.
A Secretaria Municipal de Educação informou que acompanha o caso e oferece apoio jurídico e psicológico aos professores. O inquérito corre sob sigilo, e os agressores ainda não foram formalmente identificados.
“VALORES TRADICIONAIS”
O grupo Pais Conservadores de Floripa surgiu nos últimos anos em Florianópolis como um movimento local de orientação de extrema direita, formado por pais e simpatizantes que se apresentam como defensores de “valores tradicionais” e opositores do que chamam de “doutrinação ideológica” nas escolas. A atuação do grupo ganhou destaque por meio das redes sociais, especialmente no Instagram, onde publica vídeos, notas e convocações de mobilizações contra professores, projetos pedagógicos e políticas públicas voltadas à diversidade, gênero e direitos humanos.
Embora não haja registros formais sobre sua fundação ou liderança, o grupo passou a influenciar o debate educacional na capital catarinense, pressionando direções de escolas, vereadores e secretarias municipais. Entre suas pautas estão o apoio à militarização das escolas e a defesa da “liberdade dos pais para decidir o que seus filhos devem aprender”. Em alguns casos, essa militância extrapolou o campo do debate e foi associada a episódios de intimidação e violência contra educadores, como o que resultou em agressões físicas a professores no bairro São João do Rio Vermelho.
Analistas apontam que o ambiente político de Santa Catarina, considerado um dos mais conservadores do país, favoreceu o crescimento desse tipo de movimento. Apesar da visibilidade, o grupo não possui estatuto público conhecido nem número de membros declarado, funcionando de forma descentralizada e com forte mobilização digital. Hoje, o nome “Pais Conservadores de Floripa” tornou-se símbolo das tensões entre extremismo político e liberdade pedagógica nas escolas da capital catarinense.