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Governo escolhe Pochmann, do PT, para o IBGE e Tebet descarta ingerência política no órgão

O economista Marcio Pochmann é o atual presidente do Instituto Lula

FOTO: Pedro França/Agência Senado
O economista Marcio Pochmann é o atual presidente do Instituto Lula FOTO: Pedro França/Agência Senado

Folhapress

 

O governo escolheu o economista Marcio Pochmann, filiado ao PT, como o novo presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A decisão foi tomada mesmo em meio a resistências de uma ala do Ministério do Planejamento, que abriga o órgão. O economista foi anunciado após a ministra Simone Tebet (Planejamento) dizer a interlocutores ouvidos pela Folha que não iria impor obstáculos à nomeação. Na visão dela, não há risco de ingerência política na instituição diante do diagnóstico de que o órgão é técnico e “caminha sozinho”.

Na tarde desta quarta-feira (26), antes mesmo de a decisão do presidente Lula (PT) ter sido anunciada, a ministra disse que estava aberta à ideia de se testar o desempenho de Pochmann à frente do instituto, se essa fosse a vontade do presidente da República.

Até o meio da tarde, ela afirmava a interlocutores que não tinha sido consultada pelo Palácio do Planalto sobre a troca e que ainda havia de outros nomes para o cargo. Tebet chegou a classificar como aviltante supor a hipótese de manipulação de dados estatísticos a cargo do IBGE por interesses políticos e fez questão de diferenciar o órgão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) por suas dimensões Pochmann foi presidente do Ipea de 2007 a 2012.

A gestão do economista no instituto de pesquisa foi vista à época como intervencionista, com cobranças internas por alinhamento ideológico. Para Tebet, além da solidez do IBGE e da informatização de procedimentos, como a coleta de dados, o órgão é sujeito a fiscalização e supervisão, tendo inclusive como um dos instrumentos o conselho curador composto por representantes da Esplanada.

Embora diga não conhecer Pochmann, Tebet afirmou, em conversas, que seleciona bem suas batalhas e que a indicação dele está longe de encabeçar sua lista de preocupações.

As ponderações de Tebet são encaradas como uma tentativa de aplacar as restrições ao nome de Pochmann dentro do próprio Planejamento.

Integrantes do ministério se dividem. Enquanto um grupo reprova a opção por um nome que consideram não ter notório saber em demografia e estatística, nem reconhecimento em gestão pública, outro afirma que a nomeação de um indicado do PT representaria um gesto de boa vontade com Lula.

Doutor em Ciências Econômicas e professor da Unicamp (Universidade de Campinas), Pochmann foi presidente da Fundação Perseu Abramo (do PT) e assumiu a presidência do Instituto Lula em 2020.

Em artigos, argumenta que os pobres e a classe média pagam muito mais tributos do que os ricos e super-ricos porque estes últimos vivem do lucro de suas empresas e dos dividendos que recebem das ações que possuem, e no país nada disso é taxado pelo IR (Imposto de Renda).

“Já para quem vive de salário, além de não haver escapatória, o pior é ter de pagar a mesma alíquota do super-rico, uma vez que a alíquota de quem ganha de cinco a 320 salários mínimos mensais é a mesma (27,5%)”, afirmou em texto de 2018.

Em 2020, defendeu em conjunto com outros economistas que o país precisa de uma reforma tributária progressiva urgente. Além disso, criticou o teto de gastos pregando o aumento dos investimentos públicos, transferência de renda e prestação de serviços públicos de qualidade.

Diante das resistências ao nome do economista no Planejamento, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) minimizou a hipótese de dissonância entre Pochmann e Tebet

Descrevendo os dois como disciplinados e leais a Lula, Haddad disse que não haveria dificuldades para que os dois trabalhassem juntos.

“Ela não vai ter a menor dificuldade de trabalhar [com Pochmann]. Você trabalha com pessoas diferentes. É uma pessoa [Pochmann] disciplinada, leal ao presidente. E a Simone também, disciplinada e leal ao presidente. Tem sido uma companheira de extremo valor. Não vai ter problema”, disse o ministro.

Haddad também ressaltou a abertura de Tebet ao diálogo. “Ela tem suas posições e opiniões, se coloca com muita transparência. E tem muita abertura para construir”.