As expectativas dos presidentes de empresas em torno da IA generativa seguem altas, especialmente no Brasil, com a percepção de que ela já contribui para elevar a receita dos negócios, mas as lideranças empresariais no país começam a levantar preocupações que podem atrapalhar o avanço da tecnologia.
Dentre as questões apontados por CEOs como ameaças que podem gerar perdas financeiras em 2025, a maior delas é a falta de mão de obra qualificada. A conclusão aparece na 28ª edição da Global CEO Survey, pesquisa da PwC, lançada nesta segunda-feira (20) em Davos na abertura da reunião do Fórum Econômico Mundial.
Esta é a primeira vez que o alerta com a escassez de talentos aparece entre as ameaças citadas na pesquisa. Ela chega com mais destaque no Brasil (30%) do que no cenário global (23%).
A necessidade de profissionais, segundo Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil, é mais profunda na área de tecnologia.
“[O avanço de tecnologias como] inteligência artificial, learning machine, metaverso, exige uma requalificação. E ela é muito mais complexa do que um simples treinamento. A pessoa precisa renovar hábitos, abandonar hábitos antigos. Talvez, no Brasil, a dificuldade maior seja porque uma requalificação profissional tão sofisticada exige uma base educacional mais sólida das pessoas. E educação é um tema complexo no país”, diz Castro.
A segunda principal ameaça listada no ranking é a instabilidade macroeconômica, de acordo com o levantamento, que ouviu cerca de 4.701 líderes empresariais de 105 países. A coleta das respostas é feita pela PwC entre outubro e novembro do ano anterior, momento em que as companhias costumam preparar seus orçamentos anuais.
O alerta acontece no momento em que o Brasil enfrenta perda de interesse pelo empresariado mundial. Na pesquisa divulgada em 2024, o país deixou de figurar entre os dez principais mercados considerados estratégicos para os CEOs globais. Já na edição deste ano, o Brasil recuperou uma posição no ranking (13º), mas permanece fora dos dez principais destinos.
Quando os CEOs são questionados sobre suas expectativas para a inteligência artificial generativa, o clima é de otimismo. No Brasil, 51% demonstram alta confiança na incorporação da IA aos principais processos de suas empresas -cenário superior aos 33% do resultado global.
A maioria diz que a tecnologia gerou ganhos de eficiência no uso do tempo dos funcionários. Mais de 30% perceberam alta da receita e da lucratividade. Historicamente, o mercado brasileiro tem disposição acima da média para experimentar novas tecnologias, segundo Castro, o que se reflete no tema da IA.
Outra grande tendência abordada pela pesquisa, os investimentos ligados ao clima e à sustentabilidade dividem as opiniões. Cerca de 30% dos CEOs brasileiros relatam que os investimentos com baixo impacto climático feitos nos últimos cinco anos resultaram em aumento de receita, mas as avaliações são influenciadas pelas regulamentações e pelos incentivos oferecidos em cada país.
Enquanto na China, 46% dos executivos apontam incentivos governamentais adicionais, no Brasil, essa resposta cai para 13%. Lá, a parcela dos CEOs que dizem ter visto avanço das receitas após tais investimentos chega a 60%.
“O retorno em cima disso ainda tem sido modesto, e os investimentos ainda não ganharam tração suficiente. Talvez haja até um reflexo da instabilidade da economia local. Nos últimos dois anos, as empresas seguraram investimentos de longo prazo para saber qual o desenho do país no médio e longo prazo”, diz.
Para Castro, já é forte a consciência da necessidade de investimentos ligados à pauta climática e à descarbonização, mas há uma demora em executar. “No mercado brasileiro, com uma taxa de juros tão alta, o risco de investir em ações que não vão dar o mesmo retorno no médio prazo é grande”, diz.
A pesquisa aborda o impacto dos 30 anos de digitalização sobre a organização dos setores econômicos. Para a PwC, as interações entre mudanças climáticas, inteligência artificial e outras megatendências devem estabelecer novos padrões de crescimento, mudando o perfil dos setores tradicionais, ou seja, as fronteiras entre setores estão se diluindo.
Conforme o levantamento deste ano, 45% dos brasileiros avaliam que suas companhias não serão viáveis por mais de uma década se não reinventarem seus modelos de negócio -parcela maior do que os 41% da pesquisa anterior. Quase 45% já dizem que suas empresas começaram a competir em pelo menos um novo setor nos últimos cinco anos. (Joana Cunha)