A cada década de vida aumenta chance de um homem ter problemas para ter ou manter uma ereção em relações sexuais. Mesmo após 24 anos da descoberta de remédios para impotência, o medo de envelhecer ainda é um problema para alguns, como aponta a fala do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira 7 de Setembro.
Também candidato à presidência, Bolsonaro entoou um coro de “imbrochável” após beijar a primeira-dama na presença de milhares de seguidores, como se não ter um problema de disfunção erétil fosse uma “vantagem” eleitoral e de personalidade.
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O artigo norte-americano “Aging related erectile dysfunction” (Disfunção erétil relacionada ao envelhecimento, em português), divulgado na publicação internacional “Andrologia e Urologia Translacional” em 2017, por sua vez, afirma que “a disfunção erétil visitará todo homem em algum momento de sua vida.”
Segundo os autores, médicos de instituições acadêmicas de Los Angeles, na Califórnia (EUA), o que varia é a idade em que isso acontecerá, pois depende de fatores genéticos e externos, como a qualidade de vida. Uma vez instalada, a disfunção “tende a ficar para sempre”, segundo o artigo.
A estimativa apontada no estudo é de que aos 40 anos, um homem tem cerca de 40% de chances de ter algum tipo de disfunção erétil e essa prevalência aumenta cerca de 10% a cada década que passa, ligando o transtorno ao envelhecimento normal humano e do sistema vascular.
Na Turquia, um levantamento publicado no Jornal Turco de Urologia de 2017 feito com 2.760 homens com idade média de 54,2 anos mostra que o quadro pode ser ainda mais grave após os 70 anos de idade.
Nessa faixa etária, 82,9% dos entrevistados relataram episódios de disfunção erétil de moderada a grave, diz o artigo “Prevalence of erectile dysfunction in men over 40 years of age in Turkey” (Prevalência de disfunção erétil em homens com mais de 40 anos na Turquia, em português).
O médico e sexólogo Gerson Lopes, co-autor do livro “Sexualidade e Envelhecimento”, diz que com o passar do tempo as modificações no corpo ficam cada vez mais nítidas e o indivíduo não deve sentir-se mal por isso, mas sim buscar tratamento.
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“[Assim] como o envelhecimento geral, o sexual também é inexorável. Nos homens se produz menos testosterona, diminuem as fibras musculares penianas e a sensibilidade adrenérgica aumenta, o que é ruim para a ereção”, afirma o médico.
Lopes lembra que com a idade o sexo não fica pior ou melhor, apenas diferente, uma vez que as ereções podem demorar mais, serem menos firmes ou de duração reduzida. Há também a possibilidade da relação terminar sem orgasmo.
“A frequência do sexo diminui. A condição de se excitar (lubrificação vaginal na mulher e ereção nos homens) e a resposta do orgasmo também se modificam, mas a idade não dessexualiza as pessoas”, reforça o sexólogo. Para Lopes, a disfunção erétil deve ser encarada como um problema de saúde pública, pois cerca da metade dos homens no Brasil entre 40 e 70 anos apresentam o problema em graus leve, moderado, acentuado ou total. Nos consultórios, o profissional observa que os pacientes mais velhos – particularmente aqueles com uma vida sexualmente ativa – são os que têm mais dificuldade em lidar com a redução quantitativa da função sexual. “Infelizmente muitos homens em vez de se relacionar com a mulher, se relacionam com o pênis deles.
Qualitativamente [o sexo] poderia até ser melhor, se eles entendessem que sexo não é só encontro de genitais”. A literatura médica é ampla e também mostra que disfunção sexual em homens mais jovens é menos comum, mas está crescendo em 2022 e pode estar associada a fatores de auto-estima e psicológicos, que precisam ser abordados com menos cobrança.
Com o advento do Viagra em 1998 e, anos depois da Tadalafila, que permitiu uma janela mais longa para ereção (cerca de 36 horas) e mais espontaneidade nas relações, Lopes considera que os homens não devem mais temer a impotência como antes.
“Em matéria de sexo não existe aposentadoria. O que dessexualiza as pessoas são outras coisas, como doenças, medicamentos, o social, mas a idade em si não”, afirma o especialista.