A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para investigar duas explosões que deixaram um morto na noite desta quarta-feira na Praça dos Três Poderes, em Brasília. De acordo com a Polícia Militar, houve um “autoextermínio com explosivo” nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros deixaram a Corte por orientação da equipe de segurança logo após o ocorrido, e a sessão da Câmara dos Deputados foi suspensa. Após encerrar as votações, o Senado também foi evacuado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no Palácio da Alvorada, a quatro quilômetros da área, no momento em que as bombas estouraram e, em seguida, se reuniu com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin. A Polícia Civil do Distrito Federal investiga o caso. A segurança do Palácio do Planalto foi reforçada.
O inquérito ficará a cargo de Moraes, pois a Polícia Federal avalia que podem existir conexões com as investigações sobre os atos de 8 de janeiro e das milícias digitais. O episódio reforça o debate sobre a proteção da sede dos Três Poderes um ano e dez meses após os ataques golpistas .
Um carro pegou fogo no estacionamento do anexo IV da Câmara dos Deputados pouco antes da explosão nas cercanias do STF. Autoridades apuram a conexão entre os dois episódios, mas a suspeita é que o dono do veículo, Francisco Wanderley Luiz, provocou o incêndio no automóvel, seguiu pela Praça dos Três Poderes e morreu após a detonação do artefato perto da Corte. Policiais do Distrito Federal e integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) fizeram varreduras em busca de outras bombas na Praça dos Três Poderes e no entorno do Alvorada, residência oficial da Presidência. A Esplanada dos Ministérios foi fechada.
PF considera episódio como ‘grave’
O episódio é considerado “grave” pela PF, e a decisão de entrar no caso foi tomada rapidamente. Ela se justifica pelo fato de o ataque ter ocorrido em órgão público federal. Em nota, a corporação afirmou que policiais do Comando de Operações Táticas (COT) foram acionados, além de peritos e agentes do grupo antibombas.
– Há indícios de que a mesma pessoa que ocasionou uma explosão aqui (perto da Câmara) correu para o STF – afirmou o Sargento Santos, da Polícia Militar do DF, que desarmou o explosivo no porta-malas do carro. – Era uma bomba caseira, com pólvora e tijolos. O suspeito tentou causar uma grande explosão e não conseguiu.
Suspeito fez ameaças a autoridades
Nas redes sociais do suspeito, há publicações com ameaças a autoridades e um possível aviso sobre as explosões. Em uma das imagens, ele diz que a PF tem “72 horas” para “desarmar a bomba”. Em outra, o homem cita o dia 13 de novembro, nesta quarta-feira, e fala em “grande acontecimento”. O suspeito, que foi derrotado na eleição de 2020 quando tentou ser vereador, postou uma foto no plenário do STF e escreveu que “deixaram a raposa entrar no galinheiro”. Em outras mensagens, ele fez referências a militares, políticos e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Segundo o governo do Distrito Federal, uma perícia vai ser feita para checar se o homem que morreu é o mesmo que aparece registrado como o dono do carro.
As explosões ocorreram no momento em que havia movimentação de trabalhadores voltando para casa. A servidora do Tribunal de Contas da União (TCU) Layana Costa estava esperando o ônibus na frente do Congresso, quando viu o homem se dirigir ao STF. Ele levava uma sacola e chegou a dar um “joinha” para quem estava no ponto do ônibus.
Ela ouviu uma primeira explosão e viu os seguranças do Supremo correrem em direção ao homem. Depois, houve um segundo estouro. Nessa hora, ele teria caído no chão.
– Ele passou fazendo um sinal para a gente. Ouvi duas explosões – disse ela.
A vendedora ambulante Tais Silva presenciou o momento das explosões. Ela tem uma barraca de bolos e sanduíches no túnel que liga a Câmara à Praça dos Três Poderes.
– Teve uma primeira explosão na Câmara. Achei que era só um curto circuito, mas depois ouvi mais explosões na frente do Supremo. Achei que era um atentado e fiquei com medo – disse ela.
Ailton Bezerra, que faz bicos nas imediações da Câmara, diz conhecer o dono do veículo que explodiu no estacionamento. Ele conta que nesta quarta-feira conversou com o suspeito e que viu quando ele saiu rumo à Praça dos Três Poderes com um paletó cheio de corações verdes. Segundo Ailton, ele pegou uma mochila no veículo antes.
No STF, o plenário foi evacuado após as explosões – alguns ministros ainda permaneciam no local após o fim da sessão. Em nota, o STF afirmou que “dois fortes estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados do prédio em segurança”. O texto diz ainda que “servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela”. A nota acrescenta que “mais informações sobre as investigações devem aguardar o desenrolar dos fatos” e que “a Segurança do STF colabora com as autoridades policiais do DF.”
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, conversou por telefone com Lula, Andrei Rodrigues e com a vice-governadora do DF, Celina Leão, além de ter falado por mensagens com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que está na Itália. Barroso acompanha os desdobramentos junto à segurança do STF. Ibaneis tem volta prevista para Brasília na sexta-feira e afirmou que acompanha o caso remotamente “desde o início”.
No Alvorada, de onde conversou com Barroso, Lula estava com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no momento das explosões. Eles estavam reunidos para tratar dos detalhes do corte de gastos, que será anunciado depois das reuniões do G20.
– Vivemos um tempo de violência política – afirmou Haddad ao GLOBO, após deixar o Alvorada.
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse ter conversado com a vice-governadora do DF após as explosões.
– Claro que desde o 8 de Janeiro mudaram todos os padrões de segurança dos prédios dos três Poderes. Vamos avaliar (se será necessária mais mudanças). Estão investigando os arredores porque, obviamente, o risco não está totalmente descartado. É momento de se aferir as circunstâncias e ter a cautela devida.
O ministro do STF Flávio Dino, que era o ministro da Justiça nos atos do 8 de Janeiro, se manifestou nas redes sociais após o episódio. “A Justiça segue firme e serena. Orgulho de servir ao Brasil na Casa da Constituição: o Supremo Tribunal Federal”, escreveu.
Texto de: Mariana Muniz, Geralda Doca, Sérgio Roxo, Renata Agostini, Eduardo Gonçalves, Gabriel Sabóia, Lauriberto Pompeu, Patrik Camporez, Jeniffer Gularte, Sarah Teófilo e Manoel Ventura (AG)