Marianna Holanda/Folhapress
O Exército oficializou ontem a troca do general Gustavo Dutra do Comando Militar do Planalto (CMP), que liderou tropas em 8 de janeiro, data dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em Brasília.
Dutra assumirá a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército, responsável por missões de paz e relações internacionais da Força. O general Ricardo Piai Carmona comandará o CMP.
A movimentação ocorre após reunião do Alto Comando, em que foram decididas 76 promoções e trocas de postos de oficiais-generais. Todos os comandos militares de área, com exceção do Comando Militar do Leste, foram trocados.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a saída de Dutra já estava prevista desde antes dos episódios de ataques antidemocráticos. Ele estava próximo de concluir um ano já no cargo, e a sua saída havia sido acordada com a alta cúpula da Força.
Mas a troca também ocorre em meio a críticas à atuação do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) no Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro. Foi aberto, inclusive, um inquérito policial militar para apurar a atuação do batalhão no episódio.
Os ataques às sedes dos três Poderes levaram a uma crise do governo federal e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os militares e culminou na demissão do comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda.
O comandante militar do Sudeste (responsável por São Paulo), general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, foi promovido a comandante do Exército, em 21 de janeiro.
No final de janeiro, também houve a troca do comandante do BGP. O tenente-coronel Jorge Paulo Fernandes da Hora já deixou a função no final de janeiro e será realocado para cargo no Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.
A mudança ocorre enquanto a conduta de Fernandes durante os ataques às sedes dos Poderes é investigada por um IPM (Inquérito Policial-Militar) do Exército.
No lugar dele, assume o comando do BGP o tenente-coronel Nélio Moura Bertolino, militar da arma de infantaria e formado na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1999.
Apesar das pressões para que Fernandes deixasse o cargo de comando, a mudança já estava prevista desde maio de 2022, segundo documentos internos obtidos pela Folha de S.Paulo.
Na época dos ataques golpistas, havia um acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inconformados com o resultado eleitoral, em frente ao quartel-general do Exército em Brasília.
Uma das polêmicas do episódio dizia respeito ao desmonte do acampamento golpista em 8 de janeiro. A operação ocorreu apenas no dia seguinte, mas teve o aval do presidente Lula.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a anuência presidencial foi dada após integrantes da Força afirmarem ao presidente que a operação para o desmonte do acampamento feito pela PM durante a noite dos ataques, sem planejamento prévio, poderia resultar em conflito e mortes.