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Ex-CEO da Americanas preferia receber planilhas em pendrive

A varejista Americanas Reprodução: Agência Brasil
A varejista Americanas (Reprodução: Agência Brasil)

FERNANDA BRIGATTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-CEO da Lojas Americanas, Miguel Gutierrez, preso nesta sexta-feira (28), em Madri, aparecia pouco nas trocas de emails de outros diretores do grupo que estariam envolvidos com a fraude bilionária dos balanços da varejista.
Para o Ministério Público Federal, ele participava das fraudes desde o planejamento até a publicação dos resultados, acompanhando os resultados por meio do “kit fechamento”, como eram chamados os conjuntos de documentos, planilhas e apresentações com os números contábeis reais.
Segundo o parecer da Procuradoria da República no Rio de Janeiro enviado à 10ª Vara Federal Criminal do Rio, a maior parte dos documentos que circulavam entre participantes do esquema não era enviada a ele por email ou mensagem de texto.
O MPF acredita que isso acontecia para que o ex-CEO da Americanas pudesse se resguardar. Ele pediria então para que as informações fossem gravadas em um pendrive e entregues pessoalmente.
Em um dos documentos obtidos pela investigação por meio da colaboração premiada do ex-diretor financeiro Marcelo Nunes, outro ex-diretor, Carlos Padilha, pede, por email, que Flávia Carneiro olhasse a planilha que fosse encaminhada por meio de “pen drive ao MG como solicitado”. Flávia era superintendente à época e também fechou delação premiada.
Nesse anexo, há uma a movimentação de verbas cooperadas incluídas nos demonstrativos das lojas Americanas. A listagem, referente aos anos de 2017 e 2018, assinala cartas A e cartas B, que, para o MPF, referiam-se, respectivamente, a créditos verdadeiros e falsos.
Em 2022, quando a troca no comando do grupo varejista foi anunciada, Gutierrez recebeu por email um arquivo com o histórico da operação desde 2013. Além deles, outros diretores foram destinatários do arquivo, como Anna Saicali, Timótheo Barros, Márcio Cruz e Fábio Abrate.
Para o MPF, o documento trazia uma radiografia da real situação da empresa. Nele há gráfico com os passivos deixados pelas operações de risco sacado, cartão de crédito e antecipção de verba cooperada ao longo dos anos.
Em outra planilha está o estoque das cartas de verbas coorperadas fictíticas.
Apesar de Gutierrez ter dito em 2023 em carta à CPI que buscou apurar fraudes na varejista, que as dificuldades econômicas da empresa não tinham relação com “qualquer problema de ordem contábil (que não era de meu conhecimento)”, os procuradores da República dizem no parecer que há inúmeras provas de que “toda a fraude era comandada por Miguel Gutierrez”.
Em 2019, Flávia Carneiro enviou a ele arquivos entre os quais um que tratava de “cartas B”. “Ao receber as informações, Miguel Gutierrez não fez qualquer comunicação ao mercado.”
Na quinta, a Polícia Federal cumpriu 15 mandados de busca e apreensão (14 nas residências de ex-profissionais e um na sede da Americanas no Rio de Janeiro). Além de Gutierrez, a ex-executiva Anna Saicali também foi incluída na difusão vermelha da Interpol, devido ao mandado de prisão.
Gutierrez estava fora do Brasil desde 29 de junho de 2023, segundo a Polícia Federal. Saicali deixou o país no último dia 15 de junho.