Eunice Paiva, personagem interpretada por Fernanda Torres no filme Ainda Estou Aqui, é um símbolo da resistência à ditadura militar no Brasil. Advogada, ativista e incansável defensora dos direitos humanos, Eunice dedicou sua vida à busca por justiça após o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva, em 1971. O filme dirigido por Walter Salles, que recebeu três indicações ao Oscar 2025, incluindo Melhor Filme, destaca a relevância histórica de sua luta. A atuação de Fernanda Torres foi amplamente aclamada, garantindo-lhe uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz.
A trajetória de Eunice Paiva é entrelaçada com a luta pelos direitos humanos e pela memória dos desaparecidos políticos no Brasil. Nascida em São Paulo em 7 de novembro de 1929, ela cresceu no bairro do Brás e, desde cedo, demonstrou grande determinação em conquistar seu direito à educação. Seu ingresso na Universidade Mackenzie, no curso de Letras, foi o marco inicial de sua trajetória acadêmica, onde teve o privilégio de conhecer autores como Lygia Fagundes Telles e Antônio Callado.
Após seu casamento com Rubens Paiva em 1952, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde Eunice teve filhos e viveu até o trágico desaparecimento de seu marido, que se tornou um marco na luta pelos direitos humanos no Brasil.
A Perda e a Transformação em Símbolo de Resistência
A vida de Eunice Paiva sofreu uma reviravolta dramática em 20 de janeiro de 1971, quando Rubens Paiva foi preso por agentes da repressão e, posteriormente, torturado e assassinado nos porões da ditadura. Ela mesma foi detida por 12 dias, e sua filha Eliana, com 15 anos na época, foi mantida em cativeiro por uma noite. Esse episódio transformou Eunice em um dos principais símbolos da luta pelos desaparecidos políticos no Brasil, desafiando o sistema opressor e exigindo respostas do governo.
A Luta pela Justiça e os Desafios Enfrentados por Eunice Paiva
Após a morte de Rubens, Eunice decidiu transformar sua dor em uma luta por justiça. Em 1973, aos 44 anos, ela ingressou na Faculdade de Direito e começou a trabalhar incansavelmente pela defesa dos direitos humanos. Formou-se advogada e passou a atuar nas causas dos desaparecidos políticos, especialmente na abertura dos arquivos da ditadura.
Entre suas principais contribuições para a justiça e a memória histórica, destacam-se:
- Atuação na Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos: Eunice teve um papel fundamental na aprovação da Lei nº 9.140/95, que reconheceu oficialmente os desaparecidos políticos como mortos, uma conquista histórica para os direitos humanos no Brasil.
- Defesa dos Povos Indígenas: Como fundadora do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAMA), Eunice Paiva contribuiu de forma significativa para a defesa dos povos indígenas e a preservação de seus direitos.
- Campanhas por Justiça e Memória: Ao lado de outras figuras notáveis como Zuzu Angel e Cecília Coimbra, Eunice engajou-se em diversas campanhas por justiça e memória, sempre buscando dar voz às vítimas da ditadura militar.
Em 1996, Eunice conseguiu o atestado de óbito de Rubens Paiva, após 25 anos de incansável luta. Este documento possibilitou à família o acesso a bens bloqueados e foi um passo importante para o reconhecimento oficial do sofrimento enfrentado. Porém, a primeira prova documental da morte de Rubens só surgiu em 2012, quando uma ficha do DOI-Codi revelou sua entrada no centro de tortura.
Conclusão: A Importância de Eunice Paiva na História do Brasil
Eunice Paiva é uma figura central na história da luta pelos direitos humanos no Brasil, uma mulher que transformou sua dor pessoal em uma força pela justiça e pela memória. Sua história, retratada no aclamado filme Ainda Estou Aqui, é uma lembrança de como a resistência e a busca pela verdade são essenciais para a construção de um futuro mais justo.