Jeniffer Gularte e Paula Ferreira/Agência Globo
A cinco dias da posse, uma etapa emblemática da cerimônia do início do novo governo segue indefinida: o desfile de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Esplanada dos Ministérios. A equipe de segurança do presidente eleito defende que ele não trafegue em carro aberto, como é praxe, mas o entorno mais próximo de Lula diz que ele resiste à ideia de percorrer o trajeto em carro blindado no domingo.
Lula estaria disposto a manter a tradição de desfilar em carro aberto mas, para policiais da equipe de segurança, a bomba encontrada nas imediações do aeroporto de Brasília no sábado influencia neste planejamento, que é dinâmico e se molda conforme o cenário. A avaliação é de que com o cenário de hoje, Lula deve utilizar o carro blindado.
Caberá ao presidente eleito decidir. Policiais preparam análises técnicas para apresentar as duas possibilidades a Lula: os riscos de fazer o trajeto com carro aberto e a possibilidade o percurso ser feito em veículo blindado. Se for feito com carro aberto, o trajeto na Esplanada começa na Catedral de Brasília, vai até o Congresso, e de lá segue até o Palácio do Planalto.
Policiais federais que trabalham na proteção do presidente eleito já tinham identificado o risco antes do episódio da bomba no aeroporto de Brasília e incluíam este tipo de ameaça no planejamento.
Outra dúvida quanto ao trajeto de Lula é a de que, caso ele opte por fazê-lo em carro aberto, se o Rolls Royce presidencial será usado ou não. Em coletiva de imprensa no começo de dezembro, a futura primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, afirmou que o veículo estaria com o banco danificado, o que, segundo ela,ocorreu na posse de Jair Bolsonaro (PL) em 2018.
Será necessário, portanto, verificar as condições do carro para ver se haverá condições de Lula utilizá-lo para desfile em carro aberto. A Polícia Federal também fará uma inspeção no veículo nesta semana. O objetivo dos agentes é oferecer todas as possibilidades para que Lula decida.
O entorno do petista acredita que, mesmo com a recomendação da PF, ele não aceitará desfilar de carro blindado pelo perfil popular da festa e pelo desejo do próprio presidente eleito de percorrer o trajeto próximo às pessoas que estarão na Esplanada. Essa avaliação, porém, não é unânime. Aliados mais pragmáticos ouvidos pelo GLOBO entendem que Lula deveria atender a recomendação da PF pelo atual cenário.
Quem defende o desfile em carro aberto argumenta que esse modelo faz parte da tradição das posses e de que é preciso confiar na organização das polícias e nos monitoramentos de inteligência. O entendimento é de que as ações terroristas são amadoras e que o esquema de segurança que vem sendo preparado será profissional, reforçado, com atiradores de elite e agentes infiltrados entre o público. Petistas também estão empenhados a não deixar que o clima de medo desmobilize a militância – são esperadas 300 mil pessoas na posse de Lula.
No sábado, George Washington de Oliveira Sousa foi preso em Brasília e confessou ter montado uma bomba que foi instalada em um caminhão que se direcionava ao aeroporto da capital federal. O motorista suspeitou da presença do artefato e chamou a polícia, que detonou o explosivo. Em depoimento, Sousa afirmou que o plano foi orquestrado no acampamento em que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro estão reunidos na cidade desde a derrota eleitoral – o grupo contesta o resultado da eleição e defende a intervenção militar, o que é inconstitucional. Ele envolveu ao menos outras duas pessoas na ação. As polícias Civil e Federal acompanham o caso.
Na noite do dia seguinte, a Polícia Militar desarmou cerca de 40 quilos de explosivos encontrados em uma mata no Gama, no entorno de Brasília. Também foram encontrados 13 coletes à prova de balas. Os agentes chegaram ao local após receberem uma denúncia. A Polícia Civil, que está à frente da investigação sobre o bolsonarista preso por planejar o atentado frustrado, não confirmou se há relação direta entre os dois casos.