JUSTIÇA

Entenda por que o influenciador Hytalo Santos foi preso

Pagamento a pais de menores, adolescentes nus em condomínio, risco de fuga: os motivos que levaram Hytalo Santos à cadeiaEnviar Enviar

Presos nesta sexta-feira (15), Hytalo Santos e o marido Israel Natan Vicente, conhecido como Euro, estão no centro de uma investigação por tráfico humano e exploração sexual.
Presos nesta sexta-feira (15), Hytalo Santos e o marido Israel Natan Vicente, conhecido como Euro, estão no centro de uma investigação por tráfico humano e exploração sexual. Foto: Divulgação

O influenciador Hytalo José Santos Filho e seu marido, Israel Nata Vicente, presos nesta sexta-feira (15) em Carapicuíba, na Grande São Paulo, após determinação da Justiça da Paraíba, promoviam cenas, vídeos e fotografias que evidenciam a exploração de crianças e adolescentes em um condomínio de Bayeux, na Região Metropolitana de João Pessoa, capital da Paraíba.

A alegação é do Ministério Público, que fez um pedido de detenção preventiva para ambos, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. A solicitação foi aceita pela Justiça na quinta-feira (14).

“O acusado pratica ‘adultização’ de adolescentes, consistente na indução precoce a comportamentos e performances sexualizadas, empregada como estratégia deliberada de engajamento digital e rentabilização econômica. Ainda que sob aparência de lazer, tal conduta traduz utilização indevida da imagem de menores com finalidade lucrativa, configurando exploração sexual e trabalho infantil artístico irregular, uma vez que o conteúdo produzido é monetizado em plataformas digitais” afirma, no processo, que está sob sigilo e foi obtido pelo GLOBO, a promotora Ana Maria França Cavalcante de Oliveira, da 2ª Promotora de Justiça de Bayeux (PB).

Ainda segundo a promotora, a exploração terá reflexo prolongado na vida das vítimas.

“Essa exploração da imagem e sexualidade causa uma ruptura no desenvolvimento natural de crianças e adolescentes, ensinando as pessoas em desenvolvimento a se comunicar apenas através da sexualidade, desenvolvendo uma identidade frágil e falsa, valendo-se da falta de discernimento dos menores pois eles não percebem o quão prejudicial é essa exposição, e a responsabilidade de proteção recai sobre os adultos”, explica Ana Maria Oliveira.

Segundo os investigadores, Hytalo centraliza seu conteúdo em um grupo de jovens (chamados de “crias”, “filhas” e “genros”), muitos dos quais menores de idade, que residem em uma “mansão” sob sua tutela informal. O influenciador realizaria apoio financeiro aos menores e também a seus pais.

“A situação se prolonga por anos, muito mais do que oversharenting (termo que descreve a prática de pais que expõem de forma excessiva a vida de seus filhos nas mídias sociais). Há indícios de que o investigado se aproveita da vulnerabilidade social e emocional de algumas crianças e adolescentes, induzindo-os a participar de poses, coreografias e danças erotizadas para divulgação nas redes sociais, mediante promessa de recompensas (…) Ele retira as crianças das famílias originárias sob a pálida e falsa promessa de melhoria de vida e criação de oportunidades, trazendo participantes de suas cidades, separando-os dos pais para ficarem em seu “circo macabro”, e depois excluindo- as da mesma forma que as trouxe, simplesmente as colocando em um carro e encaminhando de volta”, afirma a promotora.

As condutas de Hytalo não se limitavam à exploração da imagem e da sexualidade dos jovens. Em depoimento ao Ministério Público do Trabalho (MPT-PB), um policial militar que fez serviço de segurança para os dois acusados afirmou que recebia dinheiro em sua conta oriundo de plataformas de apostas que patrocinavam o infleunciador, e que Hytalo não remunerava as mulheres que serviam como “vitrine” para seu negócio.

“Hytalo fica com todo o dinheiro dos contratos de publicidade fechados pelos adolescentes e demais integrantes da turma. Além disso, eles não possuíam cartão de crédito e não recebiam qualquer dinheiro do influenciador. Tudo era pago por Hytalo e os menores não tinham dinheiro nem para tomar um sorvete na esquina”, disse o policial aos promotores do MPT paraibano.

Para dar ar de legalidade em seus atos, o influenciador paraibano dizia ter a tutela dos jovens, mas o máximo que conseguia era a autorização verbal dos pais deles.

Para os promotores, caso solto, Hytalo poderia destruir provas e fugir do estado e até mesmo do país.

“A natureza e a complexidade da organização criminosa envolvida intensificam consideravelmente os riscos à instrução criminal. O risco gerado pela liberdade dos investigados irradia efeitos que podem desvelar na ineficiência da persecução penal, ao permitir a dissipação do produto do crime e do proveito oriundo da aplicação dos recursos desviados, através de atos de lavagem e branqueamento de capitais”, afirmou a Promotoria paraibana.

Viagem ao Rio de Janeiro e “surra” de traficantes

Segundo outro policial que fazia segurança particular, Hytalo, o marido e sua equipe, incluindo os menores de idade, foram recentemente da Paraíba ao Rio de Janeiro para participar de um baile funk no Complexo da Penha (Zona Norte). Na ocasião, o influenciador bebeu em demasia e começou a fotografar os traficantes do local.

“A equipe foi parar no Complexo da Penha (Morro da Penha), cercada por traficantes de droga fortemente armados com fuzis. Hytalo bebeu muito, ficou embriagado e começou a arrumar confusão, querendo tirar a roupa e entrou em alguns camarotes para estourar bolas, desrespeitando as leis internas do morro. A ação gerou incômodos e algumas pessoas partiram para cima dele e de algumas das meninas que o acompanhavam. Todos apanharam dos locais e de seis dos 25 seguranças presentes. Na sequência, após levar uma ‘voadora’, Hytalo pegou o telefone para começar a gravar os traficantes”, disse o segurança. A confusão foi apaziguada, o conteúdo foi apagado e Hytalo foi embora com algumas escoriações.

Multas por andar de moto sem capacete e com adolescentes seminuas

No condomínio em que vivia na Paraíba até fugir para São Paulo, Hytalo foi multado diversas vezes por dirigir moto sem capacete e por levar na garupa adolescentes seminuas. Ao todo, as infrações somaram R$ 19.203, 20.

“Todos esses incidentes foram explicitamente gravados e postados em sua rede social com o objetivo de atrair maior visibilidade”, afirma a acusação.

Hytalo e Israel estão presos na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), próximo à Rodoviária do Tietê, na Zona Norte de São Paulo. A audiência de custódia de ambos deverá ocorrer no sábado (16). A data da transferência dos acusados para a Paraíba ainda não foi confirmada pela polícia paulista.

‘Bastante abalados’

Durante a tarde, o advogado Felipe Cassimiro saiu da sede do DEIC e falou com a imprensa. Membro da defesa dos influenciadores, ele afirmou que os clientes já passaram por exame de corpo de delito e que estão “bastante abalados”.

– A gente está lidando com pessoas verdadeiramente inocentes e cabe a nós agora, no processo, demonstrar as ilegalidades que ambos estão sofrendo – disse Cassimiro.

Ele afirmou também que espera que ambos permaneçam detidos em São Paulo e que a defesa vai ingressar com um pedido de habeas corpus ainda nesta tarde.

– Aqui é o local da prisão. A regra no Brasil é que a pessoa fica presa no local onde foi consumada a prisão e não propriamente o fato do processo tramitar em outro estado – diz o advogado.