
A liderança da COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas), que acontece em novembro, em Belém, é formada por um trio: o presidente, a diretora-executiva e o campeão climático de alto nível.
A formação ficou completa em 2 de abril, após o anúncio do empresário Dan Ioschpe, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), como campeão climático.
O presidente da conferência é o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores. A diretoria-executiva está sob responsabilidade de Ana Toni, secretária de Mudança do Clima no MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima). Ambos tiveram os nomes anunciados em 21 de janeiro e o conjunto foi definido pelo presidente Lula (PT).
Embora precisem atuar de forma integrada, cada um dos cargos tem funções específicas e complementares no comando da conferência.
De acordo com a presidência da COP30, o cargo tem a missão de coordenar, articular e orientar os aspectos substantivos da conferência, ou seja, os temas centrais das negociações climáticas.
“Também é responsabilidade do presidente liderar as negociações internacionais sobre mudança do clima, mobilizar atores estatais e não estatais no processo negociatório e promover o engajamento da sociedade brasileira e internacional na implementação de medidas climáticas”, diz a presidência da cúpula.
Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, destaque que “é muito importante ter um bom presidente para a COP”.
“Isso não garante o sucesso da conferência, porque as decisões são tomadas por consenso entre as partes e não dependem só dele. Mas uma má condução da presidência, com um presidente fraco ou pouco transparente, é garantia de fracasso, porque erode a confiança e danifica as conversas entre os países”, explica.
Segundo Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, think tank dedicado à política climática, o presidente da COP é mais que um mediador: é uma liderança política com responsabilidade global.
“Cabe a ele ser guardião do Acordo de Paris e arquiteto de caminhos para sua implementação. Para isso, precisa criar o ambiente político necessário, atuando com transparência e imparcialidade”, afirma.
“Ter um negociador experiente como Lago é um bom começo, ainda mais num momento em que o processo está tão fragilizado. Temos um contexto difícil, com a saída dos Estados Unidos [do Acordo de Paris], guerras tarifárias e um cenário internacional conturbado. Um diplomata que conhece a convenção e o funcionamento do regime climático ajuda a dar segurança para que as conversas comecem com o pé direito”, acrescenta Herschmann.
O papel da Diretora-Executiva na COP30
A diretora-executiva da COP30 -função também chamada de CEO- é a responsável por auxiliar o presidente na definição de diretrizes e na implementação de ações relacionadas à conferência, além de coordenar as frentes de trabalho e promover o alinhamento institucional da presidência.
“Na prática, a diretora-executiva atua como braço direito do presidente, facilitando o diálogo e a mobilização”, diz Herschmann.
Na visão de Unterstell, Ana Toni pode ampliar o alcance da conferência ao envolver atores não estatais, como governos locais, sociedade civil, juventude e empresas.
“Enquanto o presidente lidera as negociações políticas, a diretora-executiva pode fazer da COP uma plataforma mais ampla de ação climática, articulando entregas concretas em temas como transição justa, financiamento e adaptação”, diz.
Para as especialistas, a escolha dos dois nomes indica que o Brasil aposta em experiência e credibilidade para a condução da conferência, além de sinalizar comprometimento com a agenda climática.
“São perfis que se complementam e indicam uma estratégia de articulação ampla: unir política, técnica e participação social”, afirma Unterstell.
O papel do Campeão Climático na COP30
Já o campeão climático da COP30 -também conhecido como “champion”- é o responsável por mobilizar atores não estatais e acelerar o compromisso global com a ação climática.
Natalie lembra que, em edições anteriores, o trabalho dos campeões climáticos foi crucial para gerar ondas de mobilização fora das salas de negociação. Para a COP30, o desafio será gerar a mesma força em torno da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e da ampliação da adaptação climática.
“Esse trabalho pode e deve ser articulado com a presidência e com a diretoria-executiva para garantir que ambição, mobilização e implementação caminhem juntas”, afirma.
“Ele deve falar com o setor privado e com outros atores que, embora não sejam tomadores de decisão no processo formal, podem alavancar a ação climática. Ele precisa ouvir essas pessoas, entender como integrá-las melhor ao processo”, descreve Herschmann.
As COPs contam ainda com a presença fixa de Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). Ele é o responsável por garantir a continuidade institucional das negociações climáticas e supervisionar o cumprimento das regras da ONU durante o evento.
EVERTON LOPES BATISTA