
Prevenir as doenças agudas e tratar as doenças crônico-degenerativas está em debate na 29ª edição do Congresso Brasileiro de Nutrologia, promovido pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). O evento, que acontece até sábado (27), no estado de São Paulo, deve reunir mais de 3.500 participantes de diversos países.
Evidenciados os debates sobre a obesidade, principal temática do evento, o encontro também reúne especialistas da saúde da mulher, da nutrologia esportiva, doenças inflamatórias intestinais, nutrodermatologia, transtornos alimentares, suplementação e estratégias para um envelhecimento preventivo e saudável. Os transtornos alimentares e seletividade alimentar dentro do Transtorno do Espectro Autista.
Para o presidente da Abran, Dr. Durval Ribas Filho — médico nutrólogo e Fellow da The Obesity Society (TOS – EUA) — a nutrologia tem ganhado cada vez mais relevância nos últimos dez anos, tanto na comunidade médica quanto na sociedade em geral. “O que a gente observa é a integração de outras especialidades médicas, porque a nutrologia converge a nutrição médica com praticamente todas as especialidades médicas. A gente diz que a nutrologia é uma especialidade que contempla de A a Z e, evidentemente, a prevenção e o tratamento em todas as suas patologias”, disse.
Com mais de 70 simpósios programados, o congresso conta com a presença de palestrantes do Brasil, Argentina, Estados Unidos, Alemanha, Chile, Espanha, entre outros países. A expectativa é apresentar as mais recentes evidências científicas, além de compartilhar experiências e estudos de referência com a comunidade médica.
PALESTRAS
Temas Abordados no Congresso de Nutrologia
Entre os temas mais aguardados do evento, os transtornos alimentares atraíram grande interesse do público. As apresentações abordaram desde a vigorexia e a distorção da imagem corporal relacionada ao uso de esteroides anabolizantes, até quadros clássicos como bulimia nervosa e a hiperssexualização relacionada à alimentação.
Um dos destaques foi a ortorexia nervosa, um distúrbio caracterizado pela obsessão por uma alimentação considerada “pura” ou “saudável”. Embora ainda não reconhecida oficialmente pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), a condição tem sido cada vez mais estudada.
De acordo com o nutrólogo Fabiano Robert, da Abran, que palestrou sobre o tema, a ortorexia nervosa representa um comportamento alimentar disfuncional que pode levar a sérias consequências. “Ela (ortorexia nervosa) é considerada um comportamento dismórfico alimentar. Restringe-se grupos alimentares, como lacticínios e as carnes sem nenhum padrão de substituição adequada, e isso gera um padrão de inquietação constante nesse paciente, gerando um quadro de ansiedade que é um caminho para o transtorno alimentar clássico, como é a bulimia e anorexia”, explica o médico.
Segundo o especialista, a condição tem maior prevalência entre homens de todas as faixas etárias. Ele alerta para a importância da orientação profissional. “Existe uma linha muito tênue entre um hábito alimentar saudável, onde você tem a orientação de um profissional em relação ao comportamento do ortoréxico onde não existe o embasamento científico. A tomada de decisão é feita única e exclusivamente baseada em mitos, crenças e o que a mídia influencia”, conclui.
Nutrição e Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Outro tema de destaque foi a nutrição de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O professor doutor Carlos Nogueira-de-Almeida (SP), diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da Abran, chamou atenção para a alta prevalência de seletividade alimentar nesse grupo. Segundo seus estudos, é preciso desmistificar as questões relacionadas a seletividade alimentar.
“Sabemos que pessoas com TEA têm transtornos gastrointestinais com muito mais frequência e do ponto de vista alimentar é um quadro muito frequente de seletividade, em que elas acabam rejeitando uma quantidade enorme de alimentos, algumas por uma questão de excesso de sensoralidade e outras por ausência de sensoralidade. Então, isso sim, é um fato a se preocupar, porque são crianças que acabam restringindo toda a sua dieta às vezes a dez alimentos, a cinco e até a um alimento. A gente precisa cuidar disso, para que elas tenham a melhor nutrição possível mesmo tentando se respeitar essa característica da seletividade”, reforça o médico.
Nogueira-de-Almeida reforça que essas particularidades devem ser respeitadas, mas sempre com acompanhamento especializado. Ele também alertou para um equívoco comum: a retirada indiscriminada de glúten ou lactose da dieta de crianças autistas. “Do meu ponto de vista é preciso desmistificar muita coisa que é falada por aí e que faz com que as famílias criem uma expectativa falsa que não vai corresponder a nenhuma melhora para a criança, então não existe a indicação de tirar glúten ou lactose para crianças com TEA”, alertou.