No coração do nordeste paraense, o município de Curuçá é sinônimo de alegria, fanfarra e diversão neste período de carnaval. O local conta com uma programação cultural com a participação de vários blocos carnavalescos animados, sendo um dos mais populares o Pretinhos do Mangue, que este ano celebra 35 anos de criação. A festa de Momo na cidade começou no sábado, mas segue animada até a Quarta-feira de Cinzas, com o Bloco dos Ilhados.
Hoje, domingo, e na Terça-Feira Gorda, o bloco Pretinhos do Mangue sai às ruas com seu “figurino” tradicional: a lama do mangue cobrindo o corpo dos foliões. Hoje, a concentração começou ao meio-dia, no porto homônimo ao bloco, com saída às 16h. Na terça-feira de Carnaval, trajeto e horários se repetem. “Este ano, a gente vai ter banda local e as músicas a serem tocadas falam sobre o meio ambiente e a sustentabilidade, com o objetivo de conscientizar os brincantes sobre a preservação do mangue e falar sobre a nossa fauna e flora amazônicas”, detalha o presidente do bloco, Edmilson Campos, o Cafá.
Uma das coisas essenciais do circuito é o banho de cheiro, apontando ainda para os temas da COP-30 sendo discutidos pelos próprios amazônidas, ressalta Cafá. “Devemos discutir a Amazônia com o povo que aqui mora e ainda falar da questão do lixo, que é um problema de cidades grandes e das pequenas também, porque cabe ao cidadão refletir sobre essas situações”, analisa.
O bloco tem uma espécie de “abadá” ecológico, chamado assim pelo presidente do bloco, porque os brincantes passam no próprio corpo o tijuco, que é uma espécie de barro extraído da área de manguezais, muito comum em Curuçá. “Este ano, nós vamos celebrar 35 anos do bloco Pretinhos do Mangue, levando a cultura de Curuçá para o Pará, o Brasil e o mundo, com a forma do nosso povo brincar o carnaval, que é passando no corpo o tijuco. Essa forma de brincar começou com o meu irmão, Everaldo Campos, e o Sebastião Araújo, e ir para a avenida nos proporcionou uma importância cultural, econômica e turística”, diz o presidente do bloco.
O mascote dos Pretinhos do Mangue é o caranguejo, também símbolo do município, recriado em um carro alegórico de um metro de altura por três de largura, e articulado para movimentar todo o corpo. Além dele, o bloco tem o carro da ostra, com uma pérola negra, e a Barraca do Avoado, onde o brincante degusta camarão, mexilhão, sanambi e peixes diversos ao final do cortejo.
Davi Amaral, conhecido como Muchacho, é motorista e tem 50 anos. Ele mora em Belém, mas todos os anos brinca o carnaval de Curuçá. Ele leva a família inteira para se divertir durante os dias de folia e só volta depois da Quarta-feira de Cinzas, quando desfila no Bloco dos Ilhados. “Desde os meus 30 anos eu vou para lá. Gosto de Curuçá porque sou muito bem recebido, tenho muitos amigos por lá e não troco por nenhum outro lugar. Não tenho nem palavras para dizer o quanto é divertido e prazeroso. No final, a gente faz aquele avoado e come peixe assado, caranguejo e camarão com os amigos”, enfatiza Davi, dizendo que 10 pessoas de sua família vão aproveitar a folia por lá.
Quando chega ao local, ele diz que pergunta a Cafá se ele já separou o seu abadá. “Ele me mostra o balde de lama cheio. É superdivertido, sem nenhum estresse dentro do bloco. Saio nele todos os anos, convido amigos e familiares. Curto o sábado, o domingo e a terça. E na Quarta-feira de Cinzas tem o Bloco Ilhados, que eu vou também. É um bloco onde as pessoas já estão sem dinheiro e acabam vendendo alguma coisa para voltar para Belém”, conta ele, que já vendeu o próprio par de sapatos e a camisa para voltar para casa depois da festa momesca.