Leonardo Vieceli/Folhapress
A taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% no trimestre até outubro, indicou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A marca é a menor para esse período do ano desde 2014 (6,7%). O indicador estava em 7,9% no trimestre até julho, o mais recente da série histórica comparável da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
A taxa de 7,6% veio em linha com a mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam a mesma marca. “O comportamento da taxa de desemprego reflete a sazonalidade do mercado de trabalho nesta época, quando muitas empresas contratam trabalhadores para suprir o aumento da demanda por produtos e serviços no fim do ano”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
POPULAÇÃO OCUPADA ALCANÇA 100,2 MILHÕES
A baixa da desocupação veio acompanhada por um novo recorde da população ocupada com algum tipo de trabalho. Esse contingente foi estimado em 100,2 milhões de pessoas no trimestre até outubro.
É a primeira vez que a população ocupada ultrapassa os 100 milhões na Pnad, iniciada em 2012. O número era de 99,3 milhões até julho. Houve um acréscimo de 0,9% (ou 862 mil trabalhadores a mais) na comparação trimestral.
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, avaliou que a ocupação vem mostrando um “crescimento sustentado”. Ou seja, sem o registro do que ela chamou de “intermitência” ou “gangorra”.
“A gente está diante de um cenário de recuperação de indicadores econômicos. Isso acaba se refletindo no mercado de trabalho”, disse a pesquisadora.
No primeiro semestre, a atividade econômica mostrou desempenho acima do esperado no país com o impulso da agropecuária. O mercado de trabalho costuma responder com algum atraso aos estímulos da economia, apontam analistas.
Eles, porém, projetam uma desaceleração da atividade na segunda metade deste ano, após o pico da safra agrícola e com os juros ainda elevados. O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre será divulgado pelo IBGE na próxima semana, no dia 5 de dezembro.
Parte dos analistas também recomenda cautela ao analisar o aumento da população ocupada em termos absolutos. Isso porque os dados da Pnad ainda não refletem possíveis impactos do Censo Demográfico 2022.
O recenseamento é a base para a atualização da amostra populacional usada pelo IBGE na pesquisa de emprego e desemprego. O IBGE planeja fazer essa revisão em 2024.
O Censo contabilizou uma população de 203,1 milhões no Brasil em 2022, abaixo das projeções usadas na Pnad. Assim, estatísticas da pesquisa de emprego e desemprego, especialmente em termos absolutos, podem sofrer alterações para baixo.
“A população ocupada pode estar próxima de 94 milhões. Mas, enquanto não tivermos a revisão na Pnad, continuamos a fazer a análise em cima dos dados divulgados pelo IBGE”, afirma o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
Ele avalia que o mercado de trabalho segue mostrando cenário positivo. “Chama atenção a continuidade da recuperação de postos com carteira assinada.”
Outra questão destacada por Imaizumi é a alta do número de trabalhadores subocupados. Trata-se de uma categoria que envolve profissionais com jornada inferior a 40 horas semanais e que gostaria de trabalhar por mais tempo.
No trimestre até outubro, o número de subocupados foi de 5,4 milhões, um acréscimo de 5,6% (ou 287 mil a mais) ante o período finalizado em julho (quase 5,2 milhões). Segundo Imaizumi, a alta pode refletir a volta ao mercado de profissionais que estavam com dificuldades para encontrar trabalho anteriormente.