Dead End: Paranormal Park. Foto: Reprodução
Dead End: Paranormal Park. Foto: Reprodução

O pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular de São Bento, em Sorocaba (SP), deputado federal Jefferson Campos (PL-SP) entrou na polêmica internacional levantada por Elon Musk contra a Netflix por causa de um desenho animado que apresenta um personagem trans. O parlamentar apresentou na Câmara dos Deputados uma moção de repúdio à plataforma de streaming, alegando que a produção seria “inadequada para o público infantil” e que estaria “ferindo valores da família e da moral cristã”.

A série em questão é Dead End: Paranormal Park — chamada no Brasil de Guardiões da Mansão do Terror —, uma animação voltada ao público a partir de 10 anos de idade, segundo a classificação indicativa do Ministério da Justiça. O desenho acompanha um grupo de jovens em aventuras sobrenaturais dentro de um parque temático, e um dos protagonistas é um personagem transexual. O conteúdo foi o estopim para uma onda de críticas lideradas por Musk nas redes sociais, em que o bilionário acusou a Netflix de promover o que ele chamou de “agenda woke” em produções voltadas a crianças.

Na esteira dessas declarações, Jefferson Campos decidiu transformar a indignação em ação política. Em seu requerimento, o deputado afirma que “temas com forte viés ideológico” não devem ser inseridos em produções destinadas ao público infantil e pediu que “órgãos competentes fiscalizem e adotem medidas cabíveis” para impedir que conteúdos semelhantes sejam exibidos. O parlamentar é pastor há mais de 30 anos e figura de destaque na Igreja Quadrangular, além de ter uma atuação marcada pela defesa de pautas religiosas e conservadoras no Congresso.

A moção de repúdio não tem efeito prático sobre a empresa, mas funciona como uma manifestação simbólica da Câmara dos Deputados. Caso seja aprovada, o documento poderá ser encaminhado à Netflix e a órgãos reguladores, como a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e o Ministério da Justiça. A medida, contudo, já provoca reações. Críticos veem na iniciativa uma tentativa de censura e alertam para o risco de que o Estado interfira em conteúdos artísticos sob o pretexto de “defesa da moral”.

Repercussão e Reações

Enquanto Elon Musk conclama boicotes à plataforma e declara ter cancelado sua própria assinatura, o caso ganha força entre grupos religiosos e políticos conservadores no Brasil, que passaram a ecoar o discurso do empresário. Por outro lado, defensores da liberdade de expressão e da representatividade de pessoas trans no audiovisual classificam o movimento como um retrocesso.

A Netflix, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre as críticas nem sobre a moção apresentada no Congresso. O episódio, no entanto, escancara mais uma vez como debates culturais e morais — especialmente quando envolvem diversidade e infância — têm se transformado em armas políticas de alcance global.