PREJUÍZO

Criadores de conteúdo adulto sofrem com bloqueio do X no Brasil

A plataforma, que permite formalmente a pornografia desde junho deste ano, era o principal meio de divulgação para criadores de OnlyFans e Privacy, sites de venda de conteúdo adulto.

Martina diz ter entrado no BlueSky, mas não vê a plataforma como substituta para o X.
Martina diz ter entrado no BlueSky, mas não vê a plataforma como substituta para o X.

“Meus conteúdos que viralizam e tem um maior alcance eram no Twitter. Quando eu fiquei sabendo do bloqueio eu não acreditei”, diz a criadora de conteúdo adulto Martina Oliveira, 22, após o bloqueio do X no Brasil.

A plataforma, que permite formalmente a pornografia desde junho deste ano, era o principal meio de divulgação para criadores de OnlyFans e Privacy, sites de venda de conteúdo adulto.

Com formatos parecidos, BlueSky e Threads não são alternativas para os criadores. Ferramenta do conglomerado Meta, o Threads não permite nudez. Martina diz ter entrado no BlueSky, mas não vê a plataforma como substituta para o X. “Não dá para publicar vídeo, as funções não são as mesmas, é bem lento e o público ainda não está na rede”, diz.

Em seu perfil oficial na própria rede, a BlueSky afirma que 2,6 milhões de usuários se registraram na plataforma na última semana, sendo 85% deles brasileiros.
Atualmente, a criação de conteúdo adulto é a única fonte de renda de Martina, realidade compartilhada com Olímpio Segalla, 22, que através do OnlyFans afirma sustentar sua família. “Passamos por vários períodos de insegurança alimentar e pobreza”, conta. Em 2022, ao perceber que iria passar por mais um momento de instabilidade financeira em 2022, o criador começou a publicar vídeos no OnlyFans.

“Eu não estava disposto a passar por aquilo de novo, sabia todas as dificuldades que estavam incluídas naquilo”, afirma.
Residente de Porto Alegre, Olímpio relata que precisou deixar sua casa neste ano em razão das fortes chuvas no Sul. Graças ao seu trabalho continuou recebendo dinheiro mesmo durante a tragédia.

Assim como o gaúcho, Gabriel Coimbra, 30, diz que com a venda de seus conteúdos sustenta sua mãe de 57 anos, desempregada. O criador conta que teve seu perfil suspenso por quatro meses devido uma falsa denúncia. Divulgou seu trabalho em outras plataformas, mas os ganhos foram abaixo da média —apenas o suficiente para pagar as contas, relata.

Com o bloqueio do X, Gabriel diz ser incerto se sua renda se manterá estável. A divulgação na rede social era responsável por 80% das assinaturas dos seus conteúdos. “Apesar de não serem ganhos fixos, é como se de repente cortassem 80% do seu salário”, afirma o criador. Antes do bloqueio, tinha aproximadamente 1,2 milhões de seguidores no X, e no BlueSky são 27 mil.

Gabriel também afirma temer a perda de sua visibilidade internacional. “Tem muitos criadores que vêm para o Brasil para colaborar, e geralmente eles nos encontram através do X”, diz.

Outra criadora que teme a perda do contato com o público de outros países é Frantiesca Nitek, 22, que já notou queda no número de assinaturas em seu OnlyFans. Seu público é majoritariamente do exterior e, com o bloqueio do X, ficou sem seu maior meio de divulgação.

Apesar de atuar também como modelo, seus trabalhos são majoritariamente atrelados à pornografia. “Tem muito estigma na moda em relação aos conteúdos. Tenho muito medo porque a gente fica meio sem ter o que fazer. Temos que criar novos meios de divulgação.”

Frantiesca afirma que, mesmo que tímida e em período inicial, há uma comunidade se formando no BlueSky. “Toda a comunidade que a gente já tinha simplesmente não tem mais, então, é realmente começar do zero”, diz.

PEDRO AFFONSO/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)