MUDANÇA E QUEDA

Com Musk, X teve queda 2 milhões de usuários no Brasil

Para especialistas em redes sociais, mudanças nos algoritmos da plataforma e na política de moderação de conteúdos sob a gestão de Musk vinham impactando o perfil do debate ali travado - da política ao futebol.

Para especialistas em redes sociais, mudanças nos algoritmos da plataforma e na política de moderação de conteúdos sob a gestão de Musk vinham impactando o perfil do debate ali travado - da política ao futebol.
Para especialistas em redes sociais, mudanças nos algoritmos da plataforma e na política de moderação de conteúdos sob a gestão de Musk vinham impactando o perfil do debate ali travado - da política ao futebol.

Prestes a ser bloqueada no Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), devido ao descumprimento de determinações judiciais, o X tem papel relevante no debate público no país, mas passou por uma queda de usuários após ser adquirida pelo empresário Elon Musk em 2022. Para especialistas em redes sociais, mudanças nos algoritmos da plataforma e na política de moderação de conteúdos sob a gestão de Musk vinham impactando o perfil do debate ali travado – da política ao futebol.

Segundo o estudo Datareportal, havia uma base de 22,1 milhões de usuários do X no início deste ano no Brasil – cerca de 2 milhões a menos do que em 2023. O levantamento considera o total de pessoas que podem ser impactadas por anúncios na rede. Foi a primeira vez, desde 2019, em que houve um recuo no volume de internautas atingidos.

O mesmo estudo aponta que o X fica longe do patamar de acessos de redes sociais como Instagram, Facebook e TikTok, e chega a ser superado por outras plataformas consideradas de nicho, como o Linkedin, voltado ao mercado de trabalho, e o Pinterest, dedicado à curadoria de imagens.

Um estudo do InternetLab corrobora a detecção de queda de usuários no Brasil. Segundo a pesquisa, um em cada quatro entrevistados dizia usar o Twitter para enviar mensagens em 2021. O percentual caiu para 21% no ano seguinte, quando Musk o rebatizou como X, e teve um tombo para 12% em 2023. A queda foi superior à variação de outras plataformas no mesmo período.

– O próprio acesso aos dados para pesquisar a plataforma era mais simples antes da aquisição pelo Musk. As informações disponíveis sugerem que houve queda no uso do X, especialmente nesse último ano, quando ocorreram mudanças até de diferenciação entre contas pagas e não pagas que podem ter levado a uma saída de usuários – afirma a pesquisadora Heloisa Massaro, diretora de Pesquisa e Operações do InternetLab.

Criado em 2006 nos Estados Unidos, o Twitter se popularizou no Brasil a partir de 2008. Com limite de 140 caracteres por publicação à época e sem fotos e vídeos, a plataforma se disseminou como um espaço para discussões de temas variados, como política e esporte, além de compartilhamento de conteúdo jornalístico. Originalmente, as publicações apareciam apenas em ordem cronológica.

O Twitter também foi largamente usado em mobilizações populares, como as manifestações de junho de 2013, e como “atalho” para usuários que desejavam estabelecer contato direto com celebridades, empresas e com o poder público, através dos respectivos perfis.

Antes da aquisição por Musk, a plataforma já havia expandido o limite de caracteres por publicação e permitido a inclusão de fotos e vídeos, além do encadeamento de múltiplos tweets e citações diretas a postagens de terceiros.

Especialistas já apontavam, à época, que a lógica interna da plataforma passava a dar mais visibilidade a publicações que engajavam outros usuários com “comoção negativa”, como discurso de ódio, fenômeno similar ao observado em outras plataformas.

Pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT. DD), Tatiana Dourado avalia que, mesmo com queda de usuários e com mudanças recentes, o X se manteve como “o principal fórum usado por líderes e formadores de opinião”, o que explica sua relevância no debate público. A pesquisadora observa que a saída de antigos usuários foi acompanhada pela entrada de perfis mais ligados a temas como tecnologia, criptomoedas e jogos de apostas, áreas de interesse do próprio Musk.

– Musk também alterou muito a forma como os links externos aparecem nos posts e criado tensão com os meios de comunicação tradicionais. Vejo uma tendência de que o X continue sendo usado por parte dos usuários com manobras tecnológicas – avalia.

Musk e Moraes vêm travando um embate nos últimos meses devido à recusa do X em acatar decisões do STF para suspender perfis investigados por ataques à democracia.

O antropólogo David Nemer, do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, avalia que a guinada no posicionamento do X sob Musk já levava à migração para outras plataformas.

– O X não alcançava o Brasil “profundo”, embora influencie discussões políticas. Não é a primeira vez que o brasileiro vai trocar de rede social. O Instagram, mesmo tendo funcionalidades diferentes, já passou a ocupar parte desse espaço.

Texto de: Bernardo Mello (AG)