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Coaf vê irregularidades nas contas de Cid

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O tenente-coronel Mauro Cid confessa ter entregue dinheiro das joias a Bolsonaro, diz revista

FOTO: Geraldo Magela/AgÊncia Senado
O tenente-coronel Mauro Cid confessa ter entregue dinheiro das joias a Bolsonaro, diz revista FOTO: Geraldo Magela/AgÊncia Senado

Eduardo Gonçalves/Agência Globo

 

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou movimentação “atípica” e “incompatível” nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. O militar está preso e é investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista.

No documento, obtido pelo GLOBO, o Coaf destacou que encontrou nas contas de Cid indícios de “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente” e “transferências unilaterais que, pela habitualidade e valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade”.

Procurado, o advogado Bernardo Fenelon, que defende Cid, afirmou que “todas as movimentações financeiras do tenente-coronel, inclusive aquelas referentes a transferências internacionais, são lícitas e já foram esclarecidas para a Polícia Federal”. O criminalista ainda pontuou que “todas as manifestações defensivas são apenas realizadas nos autos do processo”.

Ao analisar as transações financeiras, o órgão registrou que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses – de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023. Nesse período, ele registrou operações de R$ 1,4 milhão em débitos e R$ 1,8 milhão em créditos. Militar da ativa, o tenente-coronel recebe mensalmente uma remuneração de R$ 26,2 mil.

Entre as operações destacadas pelo Coaf, está o envio de remessas aos Estados Unidos no valor de R$ 367.374 em 12 de janeiro de 2023 – data em que Cid e Bolsonaro se encontravam naquele país. Os dois saíram do Brasil no fim de 2022 e não acompanharam a transmissão do cargo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, diz trecho do relatório.

O Coaf também chamou a atenção para quatro pessoas que fizeram transações com Mauro Cid. Entre elas, há um “caixeiro viajante”, um “ourives”, um tio de sua esposa e o sargento Luís Marcos dos Reis, que era subordinado do ex-ajudante de ordens na Presidência e também é investigado pela Polícia Federal.

Sobre a movimentação financeira entre Cid e Reis, o Coaf fez o seguinte registro: “Considerando a movimentação atípica sem justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se”.

O Coaf também classificou como “atípicas e incompatíveis” as transações via Pix que totalizaram R$ 17,2 milhões em favor de Bolsonaro entre 1 de janeiro a 4 de julho deste ano. Segundo o órgão de inteligência, os valores se referem “provavelmente” à campanha de arrecadação feita pelo ex-presidente para pagar as multas que recebeu durante o seu governo, como a de circular na rua sem máscaras durante a pandemia de Covid-19.

“Apoiadores do ex-presidente iniciaram uma campanha de arrecadação via Pix que parece ter surtido efeito”, diz trecho do relatório.

No início do ano, a chave Pix de Bolsonaro foi divulgada por ex-ministros do seu governo e parlamentares do PL para impulsionar a campanha de arrecadação.

O rastreamento do dinheiro movimentado nas contas de Cid é foco em diferentes apurações na Polícia Federal. A corporação analisa a existência de um suposto esquema de pagamento de despesas pessoais de Bolsonaro e de sua mulher, Michelle Bolsonaro, por meio de recursos públicos. Uma das linhas de investigação apura se Cid seria o responsável por coordenar essa operação. Como ajudante de ordens, ele cuidava das contas pessoais do ex-presidente e seus familiares.

Mauro Cid está preso preventivamente em um batalhão do Exército desde o dia 3 de maio, quando foi alvo de uma operação da PF que investiga supostas fraudes no cartão de vacinação de Bolsonaro e de pessoas ligadas a ele. A apuração aponta que dados falsos foram inseridos nos documentos.

As vacinas que, na verdade, Bolsonaro não recebeu, foram registradas como administradas em agosto e outubro de 2022, em dias nos quais, aponta a investigação, o ex-presidente não esteve nos postos de saúde de Duque de Caxias, onde houve a marcação. Em dezembro, às vésperas da viagem para a Flórida, as informações foram acrescentadas aos sistemas, e os certificados digitais de vacinação, baixados.