Renato Machado/Folhapress
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (15), em discurso no Cairo, que o Brasil vai realizar uma doação para a agência da ONU voltada para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). A entidade está sob investigação após acusação de Israel de que alguns de seus integrantes supostamente teriam vínculos com o Hamas e participaram dos ataques do 7 de Outubro. Por isso, mais de dez nações, a maior parte europeias, cortaram o financiamento.
“Meu governo fará um novo aporte de recursos para a UNRWA, e exortamos todos os países a manter e reforçar suas contribuições”, afirmou o presidente, sem detalhar o valor e dizer quando será feita a contribuição.
No site da UNRWA, a planilha de doações de 2022 mostra que o Brasil contribuiu com apenas US$ 75 mil para a agência, um percentual insignificante (menos de 0,01%) diante do total de US$ 1,17 bilhão recebido naquele ano. Estados Unidos, Alemanha e União Europeia são os maiores doadores; juntos, destinaram mais da metade dos recursos à disposição da UNRWA.
“No momento em que o povo palestino mais precisa de apoio, os países ricos decidem cortar a ajuda humanitária à Agência da ONU para os Refugiados da Palestina. As recentes denúncias contra funcionários da agência precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la”, afirmou Lula.
Na sequência, ele acrescentou que refugiados em outros países, como Jordânia, Síria e Líbano, também ficarão desamparados sem os recursos. “É preciso pôr fim a essa desumanidade e covardia. Basta de punição coletiva.”
A fala de Lula ocorreu na sede da Liga Árabe. O presidente participou de uma sessão plenária extraordinária da organização, onde discursou para representantes dos países-membros.
O discurso era um dos momentos mais aguardados da viagem do presidente ao continente africano. Ele já havia falado na tribuna da Liga Árabe em dezembro de 2003, durante o seu primeiro mandato. Antes de discursar, Lula teve uma reunião reservada com o secretário-geral da organização, Ahmed Abul Gheit.
Na sessão plenária, o brasileiro voltou a criticar Israel por suas ações no conflito com o grupo terrorista Hamas. Tel Aviv está na iminência de uma operação terrestre em Rafah, cidade ao sul de Gaza que faz fronteira com o Egito.
“Operações terrestres na já superlotada região de Rafah prenunciam novas calamidades e contrariam o espírito das medidas cautelares da Corte [Internacional de Justiça]. É urgente parar com a matança. A posição do Brasil é clara: não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino dentro de fronteiras mutuamente acordas e internacionalmente reconhecidas, que inclui a Faixa de Gaza e Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital”, afirmou Lula.
Segundo o presidente, “o ataque do Hamas de 7 de outubro contra civis israelenses é indefensável e mereceu veemente condenação do Brasil”. Acrescentou, porém, que a “reação desproporcional e indiscriminada de Israel é inadmissível e constitui um dos mais trágicos episódios deste longo conflito”.
A Liga Árabe, fundada em 1945, é composta pela Palestina e por 21 países: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Qatar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.