MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A casa de Jair Bolsonaro (PL) na praia de Mambucaba, uma vila histórica de Angra dos Reis (RJ), estava vazia na manhã desta segunda (29) quando a Polícia Federal chegou ao local para fazer uma operação de busca e apreensão contra Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente.
Bolsonaro e seus filhos Carlos, Flávio e Eduardo saíram às 5h da manhã para pescar e ainda não haviam retornado no momento em que a PF bateu à porta da residência, segundo apurou a reportagem.
A casa é a mesma, inclusive, em que a família gravou uma live no domingo (28) para falar sobre as investigações de uma suposta “Abin Paralela”, que teria funcionado no governo Bolsonaro sob o comando do hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Carlos e o pai estavam em Angra dos Reis quando receberam a notícia da operação. Assessores e advogados foram acionados por eles, que buscaram tentar se inteirar melhor das informações sobre as buscas e apreensões.
Carlos teria virado alvo depois que celulares e computadores apreendidos em imóveis de Ramagem teriam mostrado que o vereador foi um dos destinatários de informações que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) coletava sobre adversários políticos da família, que seriam espionados ilegalmente.
Além de Carlos, os policiais também investigam suposto uso da agência para favorecer Flávio e Jair Renan, também filho do ex-presidente, como mostrou a Folha de S.Paulo.
Na live de domingo, Bolsonaro negou a existência de uma Abin paralela, disse que a investigação é apenas uma “narrativa” e chamou Ramagem de “cara fantástico”.
Além da casa de Angra, são alvos da PF o gabinete do vereador e uma residência no Rio de Janeiro. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e também são cumpridos mandados em Formosa (GO) e Salvador (BA).
Segundo a PF, as medidas desta segunda-feira tem como objetivo “avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [Agência Brasileira de Inteligência]”.
Relatórios produzidos pela agência sob Bolsonaro e o uso do software espião First Mile estão no centro da investigação da PF. Na última quinta (25), a PF deflagrou a operação Vigilância Aproximada, desdobramento da Última Milha, deflagrada em outubro de 2023.
A polícia investiga se a agência utilizou o software de geolocalização e se produziu relatórios sobre ministros do STF e políticos adversários do ex-presidente.
No caso de Jair Renan, filho mais novo de Bolsonaro, a Abin teria atuado para ajudá-lo, já que ele era alvo de investigação pela PF sobre as relações com empresas que mantinham e tinham interesse em contratos com o governo federal.
Agentes da Abin tentaram atrapalhar a investigação e coletar informações com o objetivo evitar “riscos à imagem” de Bolsonaro.
Flávio, por sua vez, teria sido beneficiado com a atuação da Abin para levantar informações contra auditores da Receita Federal.
O filho de Bolsonaro à época era investigado no caso da “rachadinha” da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e tentou apontar irregularidades na Receita como forma de anular a apuração.
Após uma reunião das advogadas de Flávio com Bolsonaro, agentes da Abin teriam produzido relatórios sobre como o senador deveria atuar para se livrar das investigações.
Em nota, Flávio Bolsonaro disse ser mentira que Abin tenha atuado para favorecê-lo. “Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”, afirmou.
Advogado de Jair Renan, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga disse à Folha de S.Paulo que o filho mais novo de Bolsonaro “não tem nada para esconder que precise de atuação de quem quer que seja, sobretudo de forma ilegal”.
Na “superlive” de domingo, Bolsonaro negou que informações de serviços oficiais de inteligência chegassem até ele. “Eu não tenho inteligência da Abin, da PF, da Marinha, do Exército. Uma vez fui no centro de inteligência do Exército, o pessoal fez uma demonstração [e eu falei:] ‘E aí, não chega nada para mim, só fica com vocês aqui?'”.
“Muitas vezes eu ligava para um posto militar de um cantão desse Brasil, atendia um cabo, essa era minha inteligência, essa é confiável, porque essas oficiais, respeitosamente, para mim não chegava nada. Converso com pessoas de confiança minha”, disse ainda.