A aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) encarregada de transportar dezenas de brasileiros deportados dos Estados Unidos aterrissou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG), na noite deste sábado (25). O governo federal acionou o KC-30 após um defeito técnico impedir o avião americano de completar o trajeto entre Alexandria, no estado americano da Virgínia, e Minas Gerais.
Os 88 brasileiros estavam entre os 158 deportados que chegaram a Manaus, onde permaneceram sob assistência da Polícia Federal até o embarque no avião da FAB. O transporte contou com acompanhamento de profissionais de saúde, que garantiram o bem-estar dos passageiros durante o voo.
Em Manaus, a Polícia Federal informou que os deportados foram recebidos na área restrita do aeroporto com acesso a alimentação, colchões e chuveiros. Em nota, a corporação afirmou que os brasileiros chegaram algemados à capital amazonense, mas foram liberados das algemas imediatamente após o desembarque, em respeito à soberania brasileira e aos protocolos de segurança no país.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública havia repudiado o uso de algemas durante o voo inicial e afirmou que a dignidade da pessoa humana, prevista na Constituição brasileira, é um valor inegociável. Segundo a pasta, o presidente Lula (PT) determinou a mobilização imediata da aeronave da FAB para assegurar que os cidadãos completassem a viagem com dignidade.
Minutos antes do pouso em Confins, grupos de agentes da PF circulavam pelo aeroporto. A ministra Macaé Evaristo (Direitos Humanos) também acompanha a operação.
A consultora Eliana Campos, 42, estava no aeroporto de Confins à espera da chegada do sobrinho de 21 anos. Segundo ela, o familiar foi para os EUA à procura de um trabalho, mas sem visto. O sobrinho teria contratado um coiote no México, mas foi entregue à polícia americana e ficou preso no estado do Arizona.
“Tudo é muito complicado. Ele ficou preso, pegaram pertences dele, e conversamos somente porque ele tinha acesso a um computador que daqui tínhamos que fazer recarga de crédito”, disse, com os olhos marejados. “Agora vai ser uma nova vida.”
Esse é o primeiro voo de deportados realizado neste segundo mandato de Donald Trump, que tem o combate a imigração como principal bandeira e prometeu aumentar o número de deportações.
O retorno de migrantes em situação irregular para o Brasil se dá conforme um acordo firmado com Washington em 2017, ainda sob o governo de Michel Temer, e tem como objetivo facilitar o retorno de pessoas processadas nos EUA por entrar no país de forma ilegal e que não possuam direito a recurso.
DEBORAH LIMA/CONFINS, MG (FOLHAPRESS)