A fabricante americana dos famosos recipientes de plástico Tupperware anunciou nesta semana que vai iniciar um processo de recuperação judicial.
“Há vários anos, a situação financeira da empresa tem sido duramente afetada por um ambiente macroeconômico difícil”, diz Laurie Ann Goldman, presidente da empresa.
As vasilhas de plástico são utensílios indispensáveis na cozinha de qualquer pessoa. Milhões de brasileiros têm dezenas delas em casa guardadas no armário ou no freezer, armazenando restos de comida e marmitas para o dia seguinte. Mas há muitas dúvidas a respeito: essas vasilhas podem ir para o micro-ondas? Qual a melhor para armazenar e esquentar o alimento?
A resposta é: nem todas podem ser usadas da mesma forma e há, sim, as melhores em termos de segurança para a saúde e que os consumidores precisam ficar de olho na hora de comprar.
– O micro-ondas é um aparelho que emite ondas que agem através das vibrações de moléculas, principalmente as de água, gerando calor e esquentando o alimento. O recipiente que for dentro dele precisa ser resistente a essas vibrações. Ele não pode aquecer, pois pode derreter e liberar substâncias tóxicas no alimento – explica o biomédico Roberto Figueiredo, conhecido como Dr. Bactéria.
Segundo o especialista, o primeiro passo é verificar na embalagem se o pote é resistente ao micro-ondas.
No Brasil, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 2001 diz que um ponto fundamental do uso de materiais plásticos em contato com alimentos é que o pote precisa ter um selo que indique que é “próprio para micro-ondas, geralmente com um símbolo de ondas”.
Outro desenho que os recipientes costumam ter em alto relevo é o de talheres. Os que tiverem um desenho de um garfo e um copo, por exemplo, são seguros para contato com alimentos.
– Pode-se fazer um teste também. Coloque dentro do micro-ondas dois potes: um com dois dedos d’água e outro de teste. Ligue o aparelho por um minuto. No final, se ele estiver muito quente, é porque não é resistente. Para ser usado dentro do micro-ondas, ele precisar estar entre o morno e o frio – explica o Dr. Bactéria.
Taila Figueiredo, membro da Câmara Técnica de Alimentos e Bebidas do Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro, lembra de mais um aspecto importante: muitas pessoas desconhecem, porém no fundo da vasilha há um número estampado dentro da figura do triângulo da reciclagem. Significa que aquela embalagem pode ser recolhida para reciclagem e, portanto, deve ser separada para a coleta seletiva. Já a numeração identifica o tipo de resina plástica utilizada na produção daquela embalagem.
– Os símbolos de identificação dos materiais plásticos foram criados a princípio para ajudar na reciclagem, pois cada plástico tem uma composição, utilidade e características diferentes apesar de visualmente se parecerem. Mas acabou indo além, e agora é obrigatório que estejam nos potes para ajudar a identificar qual o melhor plástico para uso específico, como embalagem de líquidos, produtos de limpeza e até quais podem ser aquecidas – explica Figueiredo.
Os números vão de 1 a 7 e representam: 1 PET (polietileno tereftalato), 2 PEAD (polietileno de alta densidade), 3 PVC (policloreto de vinila), 4 PEBD (polietileno de baixa densidade), 5 PP (polipropileno), 6 PS (poliestireno), 7 bisfenol A (BPA) e outros materiais diferentes dos anteriores.
– Plásticos com códigos de reciclagem como 2, 4 ou 5 costumam ser mais seguros para uso no micro-ondas, pois são termoplásticos e atóxicos, ou seja, não derretem facilmente e não liberam substâncias tóxicas ao alimento. Recipientes de número 3, 6 e 7 devem ser evitados, mas principalmente o 7 – afirma Figueiredo.
Isso porque o bisfenol A, também conhecido como BPA, é uma substância tóxica que em grandes quantidades pode alterar o sistema hormonal. Segundo os especialistas, a longo prazo, ele pode até ser fator de risco para alguns tipos de câncer, como de ovário, próstata, além de outros problemas, como a endometriose.
Segundo os especialistas, para armazenar bolachas, por exemplo, em potes dentro do armário, se ele estiver novo e íntegro não tem problema. O risco ocorreria se a vasilha apresentasse rachaduras, riscas e traços, mostrando que já é um pote usado há bastante tempo. Esse tipo de fissura no plástico, ao ser exposta a temperaturas diferentes, frias ou quentes, também pode liberar substâncias tóxicas que são nocivas à saúde.
– Quando não tem mudança de temperatura e se o pote estiver íntegro não tem problema, porém, as rachaduras, mesmo em temperaturas ambientes, podem representar uma ameaça de contaminação por microplásticos, por exemplo. O freezer é um pouco menos problemático por conta da temperatura negativa, porém, há uma certa preocupação quando este alimento for descongelado, pois haverá uma nova troca de temperatura – explica a endocrinologista Maria Izabel Chiamolera, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Não há consenso em relação a um dos potes mais usados pelos brasileiros para esquentar alimentos: o de sorvete. As próprias marcas usam diferentes tipos de plástico em suas embalagens, então ela pode tanto ser a de número 2 (polietileno), e ser usada no micro-ondas, como a de número 3 (policloreto de vinila) e não ser usada. Mas, em geral, devem ser evitadas.
– O pote de sorvete é uma vasilha mais flexível, com um plástico mais fino e maleável que foi desenvolvido exatamente para fazer o contrário, ou seja, ir para o freezer. Não é o melhor plástico para ser colocado dentro do micro-ondas, portanto – diz Chiamolera.
Os especialistas, entretanto, são unânimes ao revelar que os potes preferidos para armazenar comida, esquentar ou esfriar, não são os de plástico, mas sim os de vidro ou de porcelana. Isso porque eles são mais difíceis de riscar ou ter rachaduras, não derretem quando expostos a altas temperaturas e conservam o alimento em baixas temperaturas.
Além disso, não são feitos com os materiais tóxicos do plástico e não representam ameaça de contaminação para o organismo.
– Mas há alguns contras. Eles são mais caros e difíceis de serem levados em um transporte público, por exemplo, em razão do risco de quebrar. Uma dica que eu dou é, se possível, as pessoas que almoçam ou jantam no trabalho e precisam levar marmita, é deixar um pratinho no serviço. Leva a comida em um pote de plástico novo, cuja numeração seja a certa, e ao chegar, despeje a comida no prato e o leve ao micro-ondas – sugere Figueiredo.
Na dúvida, como ocorre com qualquer outro tipo de pote plástico, os especialistas pedem para as pessoas olharem os rótulos, o fundo do utensílio, observar se há desenhos em alto relevo e, se possível, fazer o teste dentro do micro-ondas.
Texto de: Eduardo F. Filho