Após o vídeo do youtuber Felca ir ao ar, na última quinta-feira, a ONG Safernet registrou um aumento de 114% de denúncias de imagens de abuso sexual infantil.
O órgão que atua na defesa dos direitos humanos na internet comparou o número de registros no sistema de denúncias do dia 6 de agosto até esta terça-feira (12) com o mesmo período de 2024. Ao todo, foram registrados 1.651 casos. No mesmo período do ano passado, foram 770 queixas.
No vídeo chamado “Adultização”, que já registra mais de 34 milhões de visualizações e inspirou mais de 30 projetos de lei na Câmara dos Deputados, Felca denuncia como criadores de conteúdo ganham dinheiro explorando vídeos nas redes sociais com conteúdos de teor sexual envolvendo crianças e adolescentes.
A Safernet vem abordando questões citadas no vídeo de Felca desde o ano passado. Entre elas, está o uso do Telegram para distribuir e vender vídeos de abusos contra crianças e adolescentes. Além disso, também é citado o uso de acrônimos, siglas e emojis.
Entre os principais exemplos, está a disseminação do termo “child pornography”. Criminosos usam apenas as letras “c” e “p”, ou palavras com essas iniciais, para solicitar este tipo de conteúdo online.
No início do ano, um relatório da ONG mostrou que as denúncias deste tipo de crime registraram uma queda em 2024, em comparação com 2023, ano em que a Safernet reuniu o maior número de queixas da série histórica que teve início em 2005.
A organização afirmou que a queda das denúncias não demonstra que a internet está mais segura.
Ao todo, a ONG recebeu 100 mil denúncias no ano passado, uma queda de 34% em relação a 2023. O total de denúncias é o quarto maior já registrado. Além disso, a complexidade e a gravidade aumentaram. A organização também explica que mais casos têm sido investigados pelas autoridades brasileiras.
Em 2023, por exemplo, a Polícia Federal realizou mais de mil operações de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes contra 502 em 2022, um aumento de 114%.
O presidente da Safernet, Thiago Tavares, detalha que, entre os fatores que contribuíram para a queda nas denúncias, está o uso crescente de aplicativos de criação de nudes com inteligência artificial em escolas, mais difícil de monitorar, o que demonstra uma falta de controle deste tipo de tecnologia por crianças e adolescentes.
Segundo ele, outro fator seria o aumento da oferta de imagens e exploração sexual infantil em aplicativos de mensagens, principalmente por parte do Telegram. Os conteúdos criminosos costumam ser impulsionados por meio de links divulgados no X (ex-Twitter) e no Instagram e direcionados para os aplicativos de mensagens, o que dificulta as denúncias.