Apenas 11% das escolas brasileiras levam seus estudantes a museus e a outros espaços culturais frequentemente, e somente 1% fazem isso sempre.
São 39% as que raramente ou nunca realizam essas saídas. Metade delas afirma ter passeios culturais “às vezes”. O motivo apontado pela maioria (82%) para não realizar esse tipo de atividade é a falta de recursos financeiros.
Os dados fazem parte da pesquisa Arte e Cultura nas Escolas, produzida pelo Observatório Fundação Itaú e pelo Equidade.info -iniciativa ligada à Escola de Educação da Universidade Stanford, dos EUA, com apoio do Stanford Lemann Center, que desenvolve estudos de políticas públicas para a educação brasileira.
O levantamento foi realizado de junho a setembro de 2024, em 393 escolas públicas e privadas do país, com 6.091 alunos, 813 professores e 476 gestores.
Com 95% de nível de confiança, a margem de erro da pesquisa com alunos é inferior a 2 pontos percentuais; com docentes, inferior a 5,5 pontos; e com gestores, inferior a 7 pontos.
A notícia boa é que a comunidade escolar tem uma forte percepção da importância da cultura e da arte no aprendizado. Para 80% dos estudantes, as atividades artísticas no cotidiano escolar melhoram o seu desempenho acadêmico e aumentam a vontade de frequentar a escola. São 81% os que responderam que essas atividades aumentam a vontade de estudar.
No caso de gestores e professores, vai de 91% a 97% o número dos que concordam que as atividades artísticas colaboram para que os alunos tenham melhor desempenho escolar e mais vontade de frequentar a escola e de estudar.
Alunos (88%), professores (89%) e gestores (95%) gostariam que, em suas escolas, houvesse mais atividades artísticas e culturais.
No caso das saídas culturais realizadas pelas escolas, as mais frequentes são apresentações de dança (57%), seguidas de festas folclóricas ou de culturas populares (48%), peças de teatro (42%), shows de música (27%). O penúltimo lugar ficou com cinema (22%) e o último, com museus (18%).
Para Carla Chiamareli, gerente do Observatório Fundação Itaú, a pesquisa deixa evidente a demanda por mais atividades artísticas e culturais nas escolas.
“É com cultura a arte que vamos conseguir melhorar a saúde mental dos estudantes e garantir uma formação adequada, integral”, afirma.
Ela diz que, embora a cultura e a arte sejam um direito previsto na Constituição Federal, a forma como isso deve ser colocado em prática não está clara na legislação. “Não há definição sobre como isso deve ser feito nas escolas, de como deve ser a aplicação nos currículos, a contratação de professores etc.”, aponta.
Chiamareli defende a ideia de que cultura e arte sejam transversais no currículo, ou seja, estejam presentes nas diferentes disciplinas. “Há uma série de evidências de que atividades artísticas ajudam no aprendizado das matérias. Pode-se, por exemplo, desenvolver um pensamento matemático em uma aula de dança.”
Mas ela ressalta que cultura e arte devem também “ser um aprendizado com um fim em si mesmo”. “Vamos pensar, por exemplo, em uma aula de teatro. É enorme a potência que uma atividade assim tem para desenvolver as habilidades sociemocionais, o que também ajuda a formar um profissional melhor.”
Para se trabalhar com inteligência artificial, Chiamareli exemplifica, é preciso ter senso crítico, criatividade, espírito colaborativo, habilidades fortemente desenvolvidas por atividades culturais e artísticas.
“E, além da presença no ambiente escolar, é preciso ir além dos muros das escolas, criar uma interação com os equipamentos culturais da cidade ou de municípios vizinhos”, defende.
A pesquisa, além de apontar a falta de recurso financeiro como motivo para 82% das escolas não realizarem saídas culturais, mostra também como obstáculo a falta de equipamentos culturais na cidade (14%).
Na visão de Chiamareli, uma conexão profunda e perene entre educação e cultura exige uma política intersetorial. “Precisamos rever a formação docente, as regras de contratação de professores dessas atividades, buscar orçamentos que propiciem as saídas culturais e parcerias institucionais para que os alunos possam, por exemplo, estar em espaços culturais no contraturno.”
*Texto de Laura Mattos