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Ana Moser compara demissão à aposentadoria do vôlei

Ana Moser lamenta a sua demissão para acomodar o centrão dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Ricardo Stuckert / PR
Ana Moser lamenta a sua demissão para acomodar o centrão dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Ricardo Stuckert / PR

JOÃO GABRIEL

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Ainda nos últimos dias como titular da pasta, a ministra do Esporte, Ana Moser, lamenta a sua demissão para acomodar o centrão dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A sua saída do cargo foi anunciada pelo governo na última quarta-feira (6), mas a sua exoneração oficial ainda não aconteceu. Quem assumirá o posto será o atual deputado federal André Fufuca (PP-MA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A ex-atleta e medalha de bronze do vôlei brasileiro nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, irá se reunir com Lula na terça-feira (12), quando pretende apresentar um balanço final dos seus oito meses de gestão no Esporte. A cerimônia de posse de Fufuca está marcada para a quarta (13).

Em conversa com reportagem neste sábado (9), ela compara sua saída da pasta à época em que uma lesão a forçou a abandonar o vôlei mais cedo do que gostaria, com um jogo no ano 2000. Ela diz que, apesar de não ser fácil viver a demissão, entende que já passou por momentos semelhantes em sua trajetória.

“Minha vontade na época talvez fosse continuar jogando. Eu não parei porque eu quis, eu parei porque algo me parou, no caso, o meu joelho. Agora, não saio porque quis, mas por causa de um contexto [político]”, diz.

Neste contexto, diz, entra também uma questão de desequilíbrio de gênero. “Não é uma questão de identidade, é uma questão de equilíbrio”, afirma Moser.
“É fato, não tem como negar: o poder é masculino, o esporte é masculino, o Judiciário é masculino, o parlamento é masculino. Em outras partes da sociedade, com certeza se avançou mais. Nesses setores, se avançou só que a um ritmo mais lento.”

Ao mesmo tempo que demitiu Moser para alocar Fufuca, Lula tirou Márcio França (PSB) de Portos e Aeroportos, substituído por Silvio Costa Filho (Republicanos), mas não o exonerou, criando uma nova pasta, a de Pequenas Empresas, para acomodá-lo.

Ainda na noite do anúncio da demissão de Moser, o Ministério do Esporte publicou uma nota institucional lamentando a decisão de Lula. No dia seguinte, a ministra não compareceu ao desfile de 7 de Setembro.

Na sequência, recebeu o apoio de uma série de personalidades do esporte, das causas sociais e até de integrantes do governo, como a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) e a primeira-dama, Janja.

“A minha atuação dentro do ministério era pela causa, não pessoal ou por carreira [política]. Era simplesmente a aplicação de uma construção que eu fiz pela minha vida toda em cima do desenvolvimento do esporte, então com certeza não esperava sair tão cedo”, diz.
Ela afirma reconhecer, contudo, que a situação está além de seu poder. “Lamento que tenha esse preço, gostaria que fosse diferente, mas entendo que seja esse o processo.”

Desde que se aposentou do vôlei, Moser dedicou a carreira a projetos sociais e à defesa do que chama de esporte para todos, visão da prática aliada à saúde, educação e inclusão social. Criou o Instituto Esporte e Educação e presidiu a Atletas pelo Brasil.
Diz que, quando foi chamada, Lula pediu que realizasse uma revolução no esporte, e que aceitou o cargo pela possibilidade de tentar pôr em prática aquilo que, como sociedade civil, defendia que os governos aplicassem.

Na sua avaliação, foi possível concluir a reestruturação do ministério, valorizando, por exemplo, o esporte de inclusão, o paralímpico e o futebol feminino, além de fazer mudanças no Bolsa Atleta, que inclui agora o pagamento a gestantes.

Ficará para a próxima gestão, diz, a estruturação da Lei Geral do Esporte e do Sistema Nacional do Esporte, a articulação das políticas esportivas com outras pastas e entes da federação, além do resultado do grupo de trabalho sobre futebol feminino e a candidatura do Brasil para a Copa do Mundo feminina de 2027.

Sobre seu futuro, ela critica especulações de que poderia assumir a presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), uma instituição não governamental que define seu mandatário por eleição, ou a Autoridade Olímpica: “Não há como haver convite para algo que não existe”.

Por outro lado, diz que é importante que as negociações políticas sejam expostas. “Quanto mais luz se colocar nesse debate [político], melhor vai ficar. A gente vai avançando como sociedade, para sair disso com algo melhor”, diz.