Folhapress
O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) foi preso pela Polícia Federal na noite deste domingo (23) e está sendo levado para a superintendência da corporação no Rio de Janeiro. Ele saiu em um carro descaracterizado por volta das 19h, escoltado pela PF.
Ele, que cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, foi alvo da ação policial por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Cerca de 100 bolsonaristas aguardavam a saída de Jefferson. Os gritos eram direcionados a Moraes. Coisas como “Viemos cobrar. Alexandre imoral não vai nos calar” e “Liberdade”.
A ordem de prisão foi motivada em razão dos ataques verbais que o político de extrema direita, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), desferiu contra a ministra Cármen Lúcia, do STF, no dia anterior. Ele a xingou e a comparou a “prostitutas”, “arrombadas” e “vagabundas” em um vídeo publicado por sua filha Cristiane Brasil (PTB) nas redes sociais.
Além de transformar a prisão domiciliar com tornozeleira em preventiva, Moraes também ordenou a realização de busca e apreensão na residência de Jefferson.
Pela manhã, ele reagiu à abordagem e atirou. Segundo a PF, o ex-deputado também lançou granada na direção dos agentes. Dois policiais ficaram feridos, atingidos por estilhaços.
De acordo com as investigações, mais de 20 tiros de fuzil foram disparados pelo político.
À noite, Moraes determinou nova prisão contra Jefferson por tentativa de homicídio. O ministro ameaçou incriminar o ministro da Justiça, Anderson Torres, diante da notícia de que o integrante do Executivo estaria a caminho da casa de Jefferson para negociar a rendição.
Segundo a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o STF recebeu informações de que o ex-deputado bolsonarista aumentaria o tom de seus ataques às instituições. Em prisão domiciliar, Jefferson manteria ainda um arsenal de armas em sua casa de forma irregular.
A decisão de prendê-lo foi tomada porque, a partir de terça-feira (25), ele não poderia mais ser detido, como determina a lei eleitoral. Segundo esta regra, ninguém pode ser preso a não ser em flagrante cinco dias antes das eleições.
Bolsonaro se manifestou por meio de um vídeo assim que a prisão ocorreu. “Como determinei ao ministro da Justiça Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”, disse o presidente.
O ministro Alexandre de Moraes também comentou o fato.
“Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos”, escreveu em uma rede social.
Antes, Roberto Jefferson fez vídeos dizendo que não se entregaria. “Eu não vou me entregar. Eu não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente, eu vou enfrentá-los”, disse Jefferson em vídeo gravado dentro de casa, em Comendador Levy Gasparian (140 km do Rio).
Em outro vídeo, o para-brisa do veículo da PF aparece estilhaçado. “Mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles. Estou dentro de casa, mas eles estão me cercando. Vai piorar, vai piorar muito. Mas eu não me entrego”, afirma.
O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio foi destacado para apoiar a operação da PF. Veículos da PRF (Polícia Rodoviária Federal) também foram deslocados para a área.
A polícia fez um cerco em volta da residência de Jefferson, mas permitiu a passagem de pessoas próximas ao ex-deputado, como o candidato do PTB à Presidência da República, Padre Kelmon, e seu vice, o pastor Luiz Cláudio Galmonal. Kelmon, que foi à casa de Jefferson para dar apoio espiritual, segundo o PTB, entregou um fuzil do ex-deputado à polícia.
Na decisão em que ordenou a prisão preventiva de Jefferson, Moraes afirmou que o ex-deputado descumpriu as medidas impostas pelo STF.
Além de transformar a prisão domiciliar com tornozeleira em preventiva, o ministro determinou a realização de busca e apreensão na residência de Jefferson, que tem o costume de se exibir nas redes sociais portando armas, inclusive de uso restrito.
O ex-deputado foi preso em agosto de 2021 em operação da PF autorizada por Moraes no âmbito da investigação que apura suposta organização criminosa atuando nas redes sociais para atacar a democracia.
Em junho, o STF decidiu, por nove votos a dois, tornar o ex-deputado réu sob acusação de calúnia, incitação ao crime de dano contra patrimônio público e homofobia.
Os ministros decidiram abrir a ação contra o ex-deputado a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), devido a uma série de entrevistas nas quais Jefferson atacou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os senadores da CPI da Covid, o Supremo e as pessoas LGBTQIA+.