INVESTIGAÇÃO

Agente de jogadores de futebol é suspeito de elo com o PCC

Tortura, sequestro e ameaça de esquartejamento: quem é o agente de jogadores de futebol suspeito de elo com o PCC

Tortura, sequestro e ameaça de esquartejamento: quem é o agente de jogadores de futebol suspeito de elo com o PCC
Tortura, sequestro e ameaça de esquartejamento: quem é o agente de jogadores de futebol suspeito de elo com o PCC

O agente de jogadores de futebol Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Tripa, investigado por suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), é acusado de ter participado de um sequestro seguido de uma sessão de tortura determinada pela facção.

O crime, que aconteceu em janeiro de 2022 no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, e a participação de Oliveira na empreitada foram detalhados à polícia pela vítima dos criminosos, o corretor de imóveis Antonio Vinícius Lopes Gritzbach.

De acordo com o relato de Gritzbach, Oliveira era o mais violento dos sequestradores, mandou que ele ligasse para a família para se despedir e chegou a calçar luvas cirúrgicas ameaçando esquartejá-lo.

Oliveira, sócio da empresa de representação esportiva Lion Soccer Sports, agencia jogadores de diversos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro e chegou a atuar em negociações entre atletas com passagens pela seleção brasileira e grandes clubes europeus. Em 2021, por exemplo, ele teve participação na negociação que culminou na contratação do lateral-direito Emerson Royal pelo Barcelona por quase R$ 60 milhões. Não há nenhum indício de que o atleta soubesse de qualquer relação do empresário com o crime.

Na apresentação do jogador – que hoje defende o Milan -, o agente chegou a posar para fotos com Royal e dirigentes do clube catalão e ainda deu declarações à imprensa sobre a transferência. No perfil da Lion Soccer no Instagram, constam como clientes da empresa atletas de destaque, como os zagueiros Murillo, ex-Corinthians e atualmente no Nottingham Forest, e Vitão, do Internacional, além de diversos jogadores de divisões de base.

A denúncia sobre a participação do agente na sessão de tortura veio à tona após Gritzbach, a vítima, fechar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público de São Paulo. Após ser preso sob acusação de ser o mandante do homicídio do megatraficante internacional e integrante do PCC Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta – morto a tiros em 2021 -, Gritzbach resolveu contar o que sabia sobre os esquemas de lavagem de dinheiro da facção. O acordo foi homologado pela Justiça paulista em abril passado.

Desfalque de R$ 100 milhões no PCC

Segundo a investigação da polícia, Gritzbach foi acusado pelo PCC de ter dado um desfalque de R$ 100 milhões nos cofres da facção e, em seguida, de ter mandado matar Cara Preta, o dono do dinheiro. A quantia teria sido entregue por Cara Preta a Gritzbach para ser investida em criptomoedas. Após o assassinato, integrantes da facção planejaram o sequestro do corretor para tentar reaver o dinheiro e vingar a morte do comparsa.

Em depoimento, Gritzbach contou que foi “chamado para uma conversa” na casa de um integrante do PCC. No local marcado, ele teria ficado em poder da facção por mais de 9 horas e teria sido submetido a um “tribunal do crime” para contar o que havia acontecido com o dinheiro da facção. Segundo seu relato, o empresário do futebol teria sido, “de longe, o mais ameaçador” durante o sequestro.

Além de Oliveira – apontado pela polícia como comparsa de Cara Preta -, outros dois homens foram identificados por Gritzbach como participantes da sessão de tortura: Cláudio Marcos de Almeida, o Django, e Rafael Maeda Pires, o Japa, que também atuava no agenciamento de jogadores de futebol. Django e Japa foram mortos nos meses seguintes.

O corretor de imóveis acabou liberado sob a promessa de recuperar o dinheiro. No entanto, ele foi preso e acabou fechando acordo com o MP de São Paulo. A partir de sua delação, o MPSP espera avançar nos esquemas de lavagem de dinheiro do PCC envolvendo o futebol. Já Danilo Oliveira segue em liberdade. Em depoimento prestado em 2022, o agente de jogadores negou participação no sequestro. O GLOBO não conseguiu contato com sua defesa.

Texto de: Rafael Soares e Arthur Guimarães (especial para O GLOBO)