ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Afastamentos por saúde mental crescem 143% no trabalho

Dados do levantamento refletem precarização das relações e reforçam urgência de mudanças no ambiente laboral.

Em meio à rotina corrida, ao excesso de informação e aos desafios da vida moderna, cuidar da saúde mental tornou-se uma prioridade.
Foto: Divulgação

Os afastamentos por transtornos de saúde mental dispararam no Brasil em 2025. Entre janeiro e julho, o número de trabalhadores que precisaram se licenciar do emprego por esse motivo cresceu 143% em comparação ao mesmo período do ano passado. O dado faz parte de um levantamento da VR, que reúne informações de quase 30 mil empresas e 1,2 milhão de empregados. Foram 4.819 afastamentos no período, o equivalente a uma média mensal de 688 casos — contra 283 registrados em 2024. Entre a geração Z, a ansiedade é a principal causa, enquanto entre trabalhadores mais velhos a depressão predomina.

Para a advogada especialista em Direito do Trabalho Carla Felgueiras, os números não surpreendem. “Eles confirmam uma realidade cotidiana: jornadas intensas, pressão desmedida e vínculos cada vez mais frágeis estão adoecendo os trabalhadores”, avalia. Ela lembra que, em 2024, mais de 472 mil brasileiros já haviam se afastado do trabalho por problemas de saúde mental, segundo o Ministério da Previdência Social.

Impacto dos Afastamentos e a Campanha Setembro Amarelo

O cenário, ressalta a especialista, não pode ser dissociado do Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio e valorização da vida. “Não adianta falar em saúde mental sem olhar para o ambiente laboral. O trabalho, que deveria ser fonte de identidade e sustento, em muitos casos virou motivo de sofrimento e esgotamento”, pontua.

Felgueiras destaca que a legislação trabalhista tem buscado respostas. Em 2023, a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho passou a incluir ansiedade, burnout, depressão e até tentativa de suicídio, assegurando estabilidade no emprego para quem retorna após afastamento. Já a Norma Regulamentadora nº 1, atualizada neste ano, obriga as empresas a identificarem e prevenirem riscos psicossociais, como já ocorre com riscos físicos e químicos.

Desafios e Ações Necessárias

Mesmo assim, ela alerta que a Justiça do Trabalho tem sido cada vez mais acionada para lidar com casos ligados a assédio, sobrecarga e falta de reconhecimento. “Muitas empresas preferem enfrentar o problema apenas quando ele vira processo. É uma postura cara e ineficaz”, afirma.

Segundo a advogada, enfrentar a crise passa por medidas estruturais: reduzir jornadas, combater práticas abusivas e garantir segurança e propósito ao trabalho. “Psicoterapia e medicação podem ajudar, mas não resolvem se a causa está no próprio ambiente laboral. Valorizar a saúde mental é um dever legal, ético e humano”, conclui.