Foi mais ou menos como apanhar um parente na porta da prisão: a felicidade é grande, mas a vergonha vem junto. O Botafogo conquistou a vaga no placar agregado, com méritos totais, mas não pode tomar três gols para o limitado time do Peñarol. A ausência dos principais titulares fez muita falta e a equipe mesclada provou outra vez que não é confiável.
A realidade é que o Botafogo historicamente é capaz de fazer seu torcedor sofrer até nos momentos mais felizes. A classificação para a final da Libertadores é um daqueles eventos com o qual sonha todo e qualquer time do continente. E justo na noite em que alcança esse feito, pela primeira vez em sua história, o Botafogo não perdeu a chance de aprontar.
Um jogo reconhecidamente complicado pelas tensões extracampo – provocadas pela baderna dos uruguaios no Rio de Janeiro – tornou-se quase dramático no segundo tempo, após o 2 a 0 do Peñarol. Fato: o Botafogo brincou excessivamente com o perigo. Mas, não fosse assim, não seria o Botafogo, um clube historicamente fadado ao operístico.
É lógico que o susto se abateu sobre todos os botafoguenses, mas é evidente também que as chances de uma reviravolta eram mínimas. O Botafogo estava sob a influência natural da ampla vantagem estabelecida no primeiro jogo. A goleada de 5 a 0 conquistada no Brasil embalou as mudanças no time e explica certa apatia vista ao longo da partida.
Os riscos foram todos desfeitos na reta final quando o Peñarol tomou o belíssimo gol de Almada, embora tenha de imediato feito 3 a 1. Ali naquele instante da tabelinha entre Almada e Marlon Freitas a vantagem ficou sacramentada e a justíssima classificação se confirmou.
É inegável que as ausências dos atacantes Luiz Henrique e Igor Jesus foram determinantes para que o jogo fosse mais amarrado do que se imaginava. Além disso, o golaço de Báez aos 30 minutos adicionou um quê de entusiasmo nos uruguaios, que buscavam um motivo qualquer para acreditar na missão impossível de uma virada.
Com um domínio das ações em nível máximo, com impressionante presença na zona de ataque, o Peñarol cumpriu fielmente o papel do time que se lança à luta sem freios. Para aguçar ainda mais a sanha ofensiva, um minuto depois de abrir o placar veio a bola na trave direita de John, o único titular amarelado que entrou de cara.
A única mostra de agressividade do Botafogo até então havia sido a cobrança de falta de Alex Telles, aos 21 minutos, quando a bola passou tirando fino da trave de Aguerre. Depois, Savarino bateu cruzado, com perigo, em jogada rápida dentro da área uruguaia.
Uma atuação tecnicamente pobre e sem ambições maiores, lembrando muito aquele Botafogo da pipocada histórica do ano passado no Campeonato Brasileiro. A liberdade que o Peñarol teve, configurada nas ações de Léo Fernandes, foi excessiva e inadmissível.
Veio o intervalo e, logo na saída, o Peñarol foi golpeado nos seus planos de um triunfo consagrador. O goleiro Aguerre acertou um pontapé em John, que se encaminhava para os vestiários. De Amores entrou no gol e o Botafogo trouxe Almada para substituir Bastos, que tinha o amarelo.
A bola rolou no 2º tempo e logo nos primeiros movimentos veio o lance que podia ter dado outro desfecho ao jogo. Tiquinho limpou a jogada sobre o zagueiro Rodriguez, que tocou com a mão na bola. A jogada ia seguir com gol de Vitinho. O árbitro, porém, deu o pênalti. O VAR orientou revisão e a penalidade foi anulada. Prejuízo duplo: o gol também foi esquecido.
Com um a menos, o Peñarol fez a única coisa que lhe cabia: avançar suas linhas para tentar o milagre. E, por incrível que pareça, a desatenção defensiva do Botafogo permitiu o segundo gol. Báez, de novo, aos 20’. Logo depois, o lateral Mateo Ponte tomou o cartão vermelho após ficar apenas 12 minutos em campo.
Isso deu gás extra ao Peñarol e o confronto ficou aberto. Marlon perdeu gol fácil aos 33’. Dez minutos depois, veio a fina jogada de Almada, que driblou um marcador e tabelou com Marlon para receber e estufar as redes. Aí, novo apagão. Batista anotou o terceiro para os uruguaios.
Os botafoguenses mais cautelosos, como este escriba, só tiveram coragem de festejar a classificação quando o árbitro chileno decretou o fim do jogo. É óbvio que a campanha justifica a presença na final da Libertadores, mas o time se excedeu no afrouxamento das linhas e na desistência no jogo de troca de passes.
Graças aos céus, Luiz Henrique, Savarino e Igor Jesus fizeram aqueles cinco gols mágicos no primeiro embate. Vamos à finalíssima. Com fé, apesar de tudo.
Papão segue com grandes chances de sobreviver
Dos oito times posicionados na parte inferior da tabela da Série B, o PSC é apontado pelos matemáticos como o menos ameaçado de rebaixamento, com 9,80%. A Chapecoense vem logo a seguir, com 10,41%; o Botafogo-SP tem 17,84% de chances; e a Ponte Preta, em situação mais periclitante, vem com 28,85%.
Em situação de extrema gravidade, a quatro jogos do fim da competição, aparecem CRB (58,12%), o Ituano (82,28%), o Brusque (94,58%) e o Guarani (98,12%). Entendo que, desse quarteto, só o CRB ainda tem alguma chance de escapar da queda. Guarani, Ituano e Brusque não têm como sair da situação em que se encontram.
Os jogos de segunda-feira não foram favoráveis ao PSC. O Botafogo obteve uma vitória impressionante sobre o Amazonas, que perdeu um pênalti nos acréscimos. A Chapecoense bateu o Brusque, jogando fora de casa, e se afastou da zona da confusão.
Os resultados fizeram os bicolores caírem para a 14ª posição, o que não muda muito as probabilidades. Os jogos que o time de Márcio Fernandes terá em Belém, contra Brusque e Vila Nova, são suficientes para assegurar a permanência. Uma vitória e um empate devem ser suficientes, até porque a linha para a queda deve baixar para 43 ou 44 pontos.