
Por: Sérgio Augusto do Nascimento
Assim como “bora lá embaixo” é o bordão que o belenense usa quando quer ir no comércio, há também uma expressão para quando bate aquela “broca”.
O “bora dá-lhe” é um clássico do nosso vocabulário e basta esta duas palavrinhas para já se imaginar aquele cachorro-quente adubado nas esquinas de Belém. Tem coisa melhor, mano?
Pois não é que no Porto, apesar do oceano e das diferenças culturais e gastronômicas que nos separaram, também tem vários “bora dá-lhe”? É verdade.
E o mais conhecido deles se chama francesinha.
Mas peralá, o que a nossa broca sagrada de todos os dias tem a ver com a terra de Napoleão e Zidane, e mais ainda com Portugal? Tudo.
Pra começo de conversa, a francesinha é o sandes (é assim que chamamos o sanduíche aqui) mais emblemático do Porto e é difícil resistir quando estamos diante de um deles.
Na verdade o sanduba é fácil de fazer e mesmo em casa dá pra preparar a iguaria. É uma espécie de mixto-quente, contudo mais para um X-tudo.
A francesinha leva pão de forma, queijo, presunto, salsicha, linguiça, um bife de carne de boi (quando fala carne aqui tem que especificar, senão pode ser carne de porco, frango, peru), manteiga e ovo frito por cima.
Mas peralá, parte II: esse sanduba tem em qualquer parte do mundo. O que tem ele de especial? Aí é que entra o toque de originalidade: o molho.
Depois de montada a francesinha, é hora do tempero único: o molho, que é feito com vinho tinto, branco, uísque, cerveja, pimenta, cebola, azeite, alho, folha de louro, tomate, molho inglês e caldo de carne.
Mistura tudo e põe pra ferver. Detalhe: cada restaurante tem sua receita, ingredientes e ponto de fervura próprios e não a vende por dinheiro nenhum do mundo.
Também há a opção de comprar o molho pronto, esquentar e colocar no sandes. Mas é claro que o molho caseiro é muito melhor e uma espécie de assinatura de quem prepara.
É tão sério isso que aqui é troféu cobiçado o de “melhor francesinha do Porto”. Com o tempo, a criatividade dos “chefs” levou à criação de francesinhas com recheio de frango ou mesmo vegetariana.
E como surgiu esse negócio de francesinha e em Portugal? Bem, reza a lenda que um “gajo” chamado Daniel David da Silva, na década de 1950, foi dar um rolê em Paris e lá encontrou o croque-monsieur, um sanduba local.
Quando voltou ao Porto, adapta daqui, cria dali, acrescenta acolá e pronto: tava criada a francesinha, de acordo com o paladar dos portugueses.
Por ter encontrado inspiração para a “broca” em Paris, Daniel, por esse motivo, batizou a comida de francesinha.
Há outras versões, digamos assim, mais irreverentes. Mas não vamos entrar nesse particular…
De tanto falar na francesinha, me dá licença que vou ali e já volto. Vou “dá-lhe de com força” mas não demoro. Fui!!!!!!!
*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.