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Barbie: A fraternidade é rosa

Barbie: A fraternidade é rosa

A Fraternidade é rosa

Quando um filme da boneca mais famosa do mundo foi anunciado em 2019, e ainda dirigido pela cineasta Greta Gerwig, o estranhamento foi total, tanto por quem gosta do cinema mais feminista e independente da diretora, quanto pelos fãs de Barbie.

Afinal, a produção não só teria a diretora de “Lady Bird”, como o marido dela, o também diretor Noah Baumbach (“A Lula e a Baleia”) como um dos roteiristas. A produção foi ganhando uma aura de cult antes mesmo de estrear e, principalmente, pela quantidade de memes com outra grande produção que estreou no mesmo dia: “Oppenheimer”, de Christopher Nolan.

Desde a semana passada, uma onda rosa toma conta da cultura pop com a estreia de “Barbie” (2023). Mas todo o “hype” se justifica? Sim, pois é um ótimo filme de comédia, com um design de produção excelente, elenco divertido e o roteiro até bem construído. Quem procurou um exercício de futilidade, encontrou filosofia e doses de críticas ao capitalismo consumista.

Já no início da produção (após um prólogo em homenagem a 2001 – Uma Odisséia no Espaço), Gerwig já dá o tom de galhofa que irá permear tudo dali em diante. A chamada Barbielândia funciona como um imenso quarto de bonecas. Tudo é fútil e colorido. Dali em diante, em uma crise de consciência da protagonista (Margot Robbie, em uma atuação impecável), aquele mundo começa a ruir, como se Greta tivesse acabado de ler “Simulacros e Simulação”, de Jean Baudrillard, em um pastiche pós-moderno já ensaiado em outras produções, de “Matrix” a “Show de Truman”. Saem as pílulas vermelhas e entram os pés chatos.

E as referências não são à toa, já que há muitas aqui, de autores como Marcel Proust a clássicos do cinema. Há também vários detalhes que lembram as gags visuais dos filmes-paródias dos anos 1980 e até referências ao início da sétima arte, de Georges Méliès a Charles Chaplin, a partir dos cenários construídos para simular ilusão de ótica e humor físico. É até estranho estabelecer tantos elementos visuais e temáticos, para um filme que a maioria do público imaginou ser apenas um romance agridoce.

É claro que não podemos deixar de citar a química dos protagonistas, interpretados por Robbie e Ryan Gosling, se divertindo à beça como um Ken completamente idiota e afetado.

No mais, “Barbie” é um alívio para a indústria, que precisava de um sucesso de público e bilheteria para se reerguer frente ao apocalipse financeiro que veio com a Covid e o streaming. E os executivos indo buscar, no próprio mercantilismo capitalista, uma desconstrução pós-moderna progressista e feminista é uma ironia tão divertida quanto ver bonecos refletindo sobre genitais e a finitude da vida. Ou seja, diversão total.