Na avenida Presidente Vargas, no bairro da Campina, as bancas de jornal e revistas continuam firmes como pontos de encontro e de referência para quem circula pelo centro da cidade. Mesmo adaptando-se ao novo tempo – que se movimenta na era do digital –, esses espaços seguem ativos oferecendo muito mais do que informação no papel.
Entre serviços de impressão, doces e até livros para concursos, quem faz das bancas um coração pulsante na avenida, mostra que resistir é também reinventar-se. Orlando Victor, de 28 anos, está há mais de uma década à frente da banca que carrega seu nome, a Banca do Victor, quase na esquina com a rua Santo Antônio.
Ele lembra que a estrutura já existia, mas foi repassada para sua família quando o antigo proprietário não conseguiu mais tocar o negócio. “Aqui eu já tenho uns doze anos. O meu pai era amigo do antigo dono, aí ele repassou para a gente, porque ele já não aguentava mais trabalhar, por causa da idade. Era a mesma estrutura, só que o nome era Banca da Receita”, conta sobre o começo.
“Meu pai trabalhava como camelô, eu ajudava, até que comecei com manutenção de celulares e tablets, mas depois fiquei só aqui mesmo”, lembra. A clientela, segundo ele, é fiel e majoritariamente formada por pessoas mais velhas. O fluxo maior acontece no início do mês, entre os dias de pagamento.
Mais à frente, tem quem também atenda de tudo um pouco: capinhas de celular, livros diversos, revistas, jornais, bombons e variados itens, é o caso da Banca Torres. Quem atende é Elison Amaral, de 30 anos. Há três meses ele sai de Icoaraci, acordando às 4h para abrir a banca às 6h. Ele também reconhece as mudanças no setor, mas garante que o movimento ainda resiste.
“Eu trabalho aqui há três meses, mas essa banca existe há mais de uns trinta anos. Muita coisa mudou. O que antes as pessoas só conseguiam resolver aqui, hoje elas fazem direto no celular. Mas a banca continua firme, porque sempre tem quem procure por impressão, xerox, capa de celular, um livro de concurso. Jornal ainda sai todo dia e é o que mantém a tradição viva”, afirmou.
A clientela é característica. “Quem compra mais são as pessoas que vêm resolver coisas nos órgãos próximos, como a Caixa Econômica, ou até ribeirinhos que vêm de fora. O fluxo maior é de impressão, xerox e fazer documento”, detalhou.
O engenheiro mecânico Gabriel Menezes, de 28 anos, observa que o conceito de banca mudou bastante. “Hoje em dia as bancas de revistas e jornais não são só mais bancas de revistas e jornais. Elas deixaram de ser exclusivamente bancas de revistas e vendem mais outro tipo de produto. Eu já cheguei a ver até vender lanche, refeição”, comentou.
Outros negócios
Na “Banca do Chaveiro Renato”, a venda das tradicionais revistas segmentadas foi o principal foco do empreendimento por pelo menos cinco décadas. No auge das bancas, há 31 anos, o empreendedor José Maria da Silva, 77, resolveu comprar o espaço para comercializar os produtos em uma época pré-internet. Em meados dos anos 2000, com o surgimento das plataformas digitais, as vendas despencaram e o espaço teve que reinventar para não perder ainda mais clientela.
Antes chamado de “Banca de Revistas Zé Maria”, a banca passou a oferecer todo o tipo de serviço para negócios de chaveiro, atendendo, principalmente, o público do centro comercial de Belém. Agora, as revistas ainda existem, mas, com edições antigas, só servem para compor o ambiente da loja, já que hoje não tem mais saída.
“Agora eu trabalho com chave e carimbo, deixei pra lá essas coisas de revista, hoje em dia ninguém quer. Antes o pessoal se interessava muito, porque não tinha internet, então as revistas vendiam muito. Aí depois que foi entrando internet e esse costume foi acabando. Então foi uma forma de se reinventar para também não perder o trabalho. E aqui é de domingo a domingo. Eu gosto desse trabalho porque é uma utilidade pública, a gente não tem hora para os clientes chamarem”, afirmou José Maria.