DIÁRIO NA EUROPA

As vozes das flores de primavera

Belém talvez seja a capital brasileira onde as quatro estações do ano não são das mais exatas. São duas, na verdade, as que certamente não faltam. E em Portugal?

Fotos e vídeos: Jumara Nascimento
Fotos e vídeos: Jumara Nascimento

Por: Sérgio Augusto do Nascimento

Belém talvez seja a capital brasileira onde as quatro estações do ano não são das mais exatas. São duas, na verdade, as que certamente não faltam: chove todo dia e chove o dia todo. Nos velhos tempos tínhamos ainda um lance requintado: qualquer compromisso tinha que ser marcado para antes ou depois das 3h da tarde, pois era a hora certa da chuva.

Esta é a nossa querida Santa Maria de Belém do Grão-Pará. O tempo passou e, 409 anos depois, ficou apenas Belém do Pará, cidade morena escolhida por milhares de portugueses que durante boa parte do século XX atravessaram o Atlântico em busca de uma nova vida e nela encontraram uma casa acolhedora.

E em Portugal, como é que funciona? Bem, por aqui a natureza é, digamos assim, mais disciplinada. Vez por outra uma frente fria dá as caras na Península Ibérica e a temperatura cai, mas não por muito tempo. Primavera, verão, outono e inverno tem dia e hora para início e fim.

No momento em que este repórter que vos escreve preenche estas palavras, a primavera brilha nos céus, praias, aldeias e parques dos quatro cantos de Portugal. O espetáculo é tão formidável que na cidade de Funchal na Ilha da Madeira, entre 1 e 25 de maio acontece a Festa das Flores e o nome já diz tudo.

A Primavera em Portugal e a Festa das Flores

Mas voltando à Casa da Mãe-Terra, ou Portus Cales – é assim que chamo aquele espaço que junta as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, e que deu origem ao nome do país – nem as janelas das casas e apartamentos resistem à primavera, que acontece até 20 de junho, quando chega o verão.

As flores dominam tudo. São rosas, orquídeas, tulipas, camélias, cravos e uma infinidade de cores e odores. Até mesmo os mais ranzinzas e de “humor alternativo” parecem se curvar à beleza das flores primaveris.

Se calhar (tradução simultânea: talvez), o bardo português Fernando Pessoa tenha mesmo se inspirado na primavera quando, através do heterônimo Ricardo Reis, imortalizou os versos: “Segue o teu destino/rega as tuas plantas/ama as tuas rosas/o resto é a sombra de árvores alheias”.

A Inspiração de Fernando Pessoa na Primavera

*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.