SÉRIE

Amor, Mortes, Robôs e gatos, muitos gatos

Nova temporada de Love, Death & Robots prima por animações impecáveis e criativas, mas peca por roteiros sem muita inspiração

Os felinos dominam os episódios da quarta temporada da série da Netflix. foto: divulgação
Os felinos dominam os episódios da quarta temporada da série da Netflix. foto: divulgação

Na última semana, a Netflix botou no ar a quarta temporada de “Love, Death & Robots”, sua série antológica de curtas de animação. Desde 2019, o produto criado por Tim Miller e David Fincher nos apresenta estilos, autores e temas variados, sempre tendo como fio condutor a tecnologia, a violência e as relações humanas.

Mas assim como ocorre nas outras temporadas, este novo ano sofre com a irregularidade de suas histórias (com direito a ter até repetições de animal “protagonista”), mesmo mantendo o alto nível do trabalho dos animadores aqui, com variações entre o realismo e o surrealismo que são de cair o queixo.

A temporada começa com uma espécie de videoclipe de stop motion do Red Hot Chilli Peppers com “Can’t Stop”, que é só isso mesmo, um clipe musical bem feito, mas sem nada de novo ou interessante. Há episódios que brincam com a noção de perspectiva e com os clichês de filmes hollywoodianos (“Minicontatos Imediatos”) e documentários tipo Discovery Channel (“Dispositivos Inteligentes, Donos Idiotas”). Como sempre, também há várias distopias futuristas, entre o ciberpunk (“Spider Rose”) e o surrealismo gráfico (“Os Cara dos 400”, o melhor episódio da temporada)

Duas histórias têm um gato como protagonista: “A Outra Coisa Grande” e “Pois Ele Se Move Sorrateiramente”. Enquanto o primeiro pende para o humor bizarro, o segundo se apoia no horror gótico com animação mais tradicional. Há também espaço para discussões religiosas (“Como Zeke Entendeu a Religião”) e ambientalistas (“Gólgota”), além da velha luta de classes (“O Grito do Tiranossauro”).

Os estilos gráficos, novamente, são o grande atrativo da coletânea, variando entre o hiper-realismo, o surrealismo, stop motion e técnicas tradicionais de lápis e pintura. Eu destaco a criatividade envolvida em “Os Cara dos 400”, com toques urbanos e de grafite e “Gólgota”, que traz uma evolução gráfica de atores impressionante.

Entretanto, se sobra criatividade e apuro técnico, faltam roteiros mais originais e bem estruturados, o que era mais frequente nas temporadas passadas. A imaginação aqui parece mais engessada e algumas tramas ficam cansativas e repetitivas, mesmo com as histórias não passando de 15 minutos.

Assim, a série sofre do mesmo mal de outra franquia de antologias da Netflix, “Black Mirror”, que foi perdendo relevância junto com a diluição do peso de suas histórias separadas. Mas ainda vale pela curiosidade.