SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um levantamento do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças, em livre tradução) dos EUA observou que, em 2021, o número de adolescentes que já perderam a virgindade ou que eram ativos sexualmente foi o menor já registrado desde 1991. Os dados do estudo foram coletados durante a pandemia de Covid-19, quando medidas de distanciamento social foram adotadas para barrar a doença.
A pesquisa, chamada de YRBS (sigla em inglês para Pesquisa de Comportamento de Risco entre Jovens), é feita de 2 em 2 anos. A versão mais recente foi aplicada em 2021 e teve seus dados compilados recentemente em relatórios da instituição.
Nesta última edição, foram mais de 17 mil questionários aplicados para adolescentes em 152 escolas de diferentes locais dos EUA. A pesquisa inclui jovens com idade entre 14 e 18 anos.
Além de conter perguntas sobre sexo, o formulário apresentava questões de ordem demográfica, de saúde mental, de relações com pais, entre outras.
O fato de ter sido feito durante a pandemia do Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, faz com que seja possível comparar com o que foi visto nas versões anteriores do mesmo estudo. Um desses casos é em relação à prática sexual entre os mais jovens.
Foi possível observar que o número de adolescentes que já haviam perdido a virgindade foi o mais baixo desde a primeira edição. Em 1991, 54% responderam que já haviam feito sexo. Em 2021, esse número foi de 30%.
Mas o dado não é de todo surpreendente. “É uma tendência. Os jovens parecem que estão demorando mais para transar. Essa é uma realidade dos Estados Unidos, e a gente vem vendo isso em alguns países da Europa e no Oriente também”, afirma Jairo Bouer, médico psiquiatra e comunicador.
De fato, a própria pesquisa do CDC dá esse rastro. Dados coletados anos atrás já demonstravam uma tendência de queda de adolescentes com histórico sexual, principalmente em 2015, quando o percentual caiu e não voltou a subir nas edições posteriores. No entanto, a queda na versão mais recente do estudo foi a mais brusca de todas. E talvez a pandemia de Covid explique isso.
Bouer afirma que a emergência de saúde deve ter aumentado de forma vertiginosa o que já era observado. “Eu acho que é uma situação que já vinha acontecendo, e com a pandemia agrava.”
O médico diz que é necessário esperar novos dados para avaliar o efeito da crise de saúde para a prática de sexo entre jovens, mas ele já tem uma aposta: os números devem subir, só que ainda continuar mais baixo do que era visto há alguns anos.
MENOS SEXO REAL, MAIS VIRTUAL
E não é só que os adolescentes estão demorando mais para começar a transar: eles também fazem menos sexo. Outra pergunta do CDC questionou se os entrevistados eram ativos sexualmente: 21% responderam que sim nesta edição do estudo, enquanto em 1991, foram 37%.
A queda é ainda maior quando entre aqueles que já tiveram no mínimo quatro parceiros sexuais: somente 6% indicaram que atingiram esse número em 2021. Já em 1991, o percentual era 19%.
Bouer indica que parece haver uma tendência de que, além de demorar mais para começar a transar, mesmo aqueles que já não são mais virgens transam menos. “A atividade sexual como um todo, para muitos jovens, deixou de ocupar uma posição tão central no dia a dia deles como há 30 anos.”
Mas o sexo continua ali, só que muito restrito ao virtual. Para Bouer, uma explicação da queda na atividade sexual é que os jovens estão muito presos ao universo digital, como em aplicativos de relacionamento ou redes sociais. Mas na hora de partir para a vida real, não acontece.
“É como se o barato fosse muito mais na paquera, no online, na troca de nudes, em sexo virtual do que no sexo real”, resume.
NO BRASIL
A percepção de que a vida sexual dos jovens anda mais parada até existe no Brasil, mas não tão definida como em outros países. Em uma pesquisa Datafolha feita em julho de 2022, o sexo foi elencado como um eixo bem menos importante na lista do que importa para eles. Saúde, família, estudo, trabalho e religião são alguns dos fatores que aparecem como mais relevantes comparados ao ato de transar.
Bouer explica que historicamente o jovem brasileiro transa mais que o norte-americano ou o europeu. No entanto, ele não está isento da queda observada nessas outras regiões. “Tudo leva a crer que, se não é uma tendência de agora, talvez venha a acontecer nos próximos anos”, resume o médico psiquiatra sobre o caso do Brasil.