Tive a sorte de ver em ação atacantes lendários de Remo e PSC. Bené, Robilota, Alcino, Roberto Diabo Louro, Mesquita, Neves, Ércio, Wilfredo, Chico Spina, Caíto, Dadá Jacaré, Bira, Luizinho das Arábias, Cabinho, Mego, Marciano (o barbudo), Dadinho, Artur, Luiz Miller, Ageu, Edil, Lupercínio, Vandick, Robgol.
Pude apreciar também grandes meias, volantes, alas e defensores, como Belterra, Augusto, Dutra, Darinta, Marajó, Cametá, Pagani, Mendes, Luiz Florêncio, Rosemiro, Aranha, Patrulheiro, Elias, Cuca, Feitosa, Agnaldo, Eduardo Ramos, Oberdan, Aderson, Jobson, Sandro, Lecheva, Chico Monte Alegre, Aldo, Vanderson, Paulo Robson.
Goleiros sensacionais. Dico, Omar, Luiz Carlos, Edson Cimento, Paulo Vitor, François, Reginaldo, Bracali, Samuel, Clemer, Ivair, Marcão, Adriano, Wagner Xuxa.
A lista é extensa e não tem ordem cronológica. Cito nomes que me vêm à cabeça a partir da importância que via neles. A escolha também dribla a desmemória que castiga velhos escribas.
Muitos desses jogadores se consolidaram a partir de grandes atuações no Re-Pa, termômetro seguro para distinguir os bons dos mais-ou-menos. Óbvio que nem todos entraram para a galeria de ídolos imortais por serem craques; a maioria se consagrou pela fibra e destemor. As torcidas se identificam com jogadores de alma guerreira.
Gente que se lançava à arena do clássico-rei como quem encara a última das batalhas, sem medo de cara feia, consciente da grandeza do jogo e de sua infalível capacidade de carimbar reputações.
Exemplos que vivem até hoje na lembrança das torcidas, por respeito e admiração. Sim, o clássico mais disputado do mundo é onde os bons se afirmam e os esforçados podem virar lendas. Na verdade, todo jogador deveria ter o privilégio de jogar um Re-Pa.
Um dia muito especial para o futebol
O Re-Pa é um fenômeno incomparável, a partir da atmosfera que cria nas esquinas, feiras, bares e casas. A semana do clássico impõe o futebol como tema de todas as conversas em Belém e no Pará inteiro. As zoações se multiplicam, principalmente em tempos de redes sociais.
Alguns jogadores que estarão em campo hoje, no Mangueirão, às 17h, já passaram pela experiência de jogar o clássico. Outros irão experimentar algo inteiramente novo em suas carreiras.
Isso envolve também os técnicos Rodrigo Santana e Luizinho Lopes. Ambos terão que aprender na prática o que significa de fato a disputa entre dois times muito amados. A força do clássico pode ser medida principalmente pela paixão popular.
A partida deste domingo, que não decide nada dentro do Parazão, será presenciada por mais de 45 mil pessoas. Um jogo banal na disputa da 1ª fase do Campeonato Estadual se transforma em saga que ninguém quer perder. Todos pensam no jogo, todos querem vencê-lo.
O Remo ainda não tem um time definitivo, mas conta com peças consolidadas, como Rafael Castro, remanescente da campanha na Série C 2024. Ele deve formar a zaga com Klaus e Alvariño. É ponto de referência de um time que tem o melhor ataque e a melhor defesa do Parazão.
O lateral Bryan Borges é uma das exceções na criticada equipe do Papão que tenta se reerguer no clássico, que muitas vezes funciona como divisor de águas. As vaias ouvidas no jogo com o Independente ainda ressoam entre os jogadores. Isso pode ser combustível para uma resposta à altura.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 23h, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, a sétima rodada do Parazão, com destaque para o clássico Re-Pa. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.
O olhar certeiro de Galeano sobre Garrincha
No livro “Fechado por Motivo de Futebol” (LPM Editores), o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano elege ícones e constrói perfis curtos e poéticos. Interessante (e premonitório) o que ele escreveu sobre o endiabrado Mané Garrincha da Copa de 1958:
“Garrincha dribla derrubando rivais. Meia-volta, volta e meia. Faz que vai, e vem. Faz que vem, e vai. Os rivais se esborracham no chão, um atrás do outro, de bunda na grama, pernas para cima, como se Garrincha espalhasse cascas de banana. Quando enganou todos, incluindo o goleiro, senta em cima da bola, na linha do gol. Então, recua e começa tudo de novo.
Garrincha joga para rir, não para ganhar, alegre pássaro de pernas tortas, e esquece o resultado. (…) Gosta de jogar a troco de nada ou de algumas cervejas, na praia ou nos campos de pelada. Mão aberta, tudo dá, tudo perde. Garrincha nasceu para cair, e não sabe disso”.