DIÁRIO NA EUROPA

A pedra polida que é um símbolo Brasil-Portugal

Se tem uma coisa que, de cara, faz lembrar a nossa Belém do Pará é a decoração inspirada pela estética de azulejos

A pedra polida que é um símbolo Brasil-Portugal

Por: Sérgio Augusto do Nascimento

Se tem uma coisa que, de cara, faz lembrar a nossa Belém do Pará é a decoração inspirada pela estética de azulejos. O que mais vemos pela cidade é gente usando camisetas com aquelas estampas e decorando casas com tapetes, quadros, toalhas de mesa e, é claro, os próprios azulejos nas paredes.

Ainda hoje, os casarões nos bairros do Reduto, Campina e Cidade Velha conservam fachadas e varandas com as tradicionais peças de origem árabe.

Isso mesmo: o “al-zulaich” significa pequena pedra polida. O revestimento foi criado no Egito mas ganhou mesmo projeção quando os árabes o trouxeram aqui para a Península Ibérica em meados do século XIII.

O ano era 1.400 quando a pedra polida aqui chegou, pelas mãos do rei D. Manuel I. Ele foi à Espanha resolver questões ligadas ao Estado português, descobriu os azulejos e não pensou duas vezes.

O monarca adquiriu os materiais que, aos poucos, se tornaram marca registrada nas paredes, tetos e pisos de igrejas e castelos em Lisboa, Porto, Coimbra e outras cidades.

À primeira vista, os azulejos são, é claro, belas peças decorativas. Mas sabias que a utilidade deles vai mais além? Setecentos anos atrás não havia aquecedores e isso, no inverno europeu dos nossos dias, é um convite ao sofrimento.

Lá pelas tantas os primeiros adeptos perceberam que essas pedras ajudavam e muito, a isolar os prédios do frio. Pronto: tava resolvido mais um problema.

Aqui em Portugal, e especialmente na Cidade do Porto, a tradição dos azulejos nas paredes ainda é muito presente. E aqui no DIÁRIO NA EUROPA, disponibilizamos para ti uma galeria de imagens com alguns destes exemplos.

Este repórter que vos escreve esteve em três das mais emblemáticas igrejas do Porto e o mínimo que posso dizer é que são lugares mágicos.

Igrejas do Porto e os Azulejos Azuis

As igrejas de Santo Ildefonso, do Carmo e a Capela das Almas, todas no coração da Invicta, são seculares e verdadeiras obras de arte. Nas imagens, vemos passagens bíblicas, mitologias, além de lusitanos feitos heróicos, tudo pintado em azulejos azuis.

Mas por que azuis? Bem, nos idos de Camões a porcelana chinesa era famosa pelo requinte e era toda trabalhada em azul e branco. A substância usada em sua produção não existia na Europa.

E é aí que entra a criatividade: coube aos holandeses começar a fabricação de azulejos em uma tonalidade próxima à chinesa. As pedrinhas foram importadas por portugueses e assim o azul ganhou as paredes do país.

No começo eram em formato Barroco, depois predominou o Rococó e, após o terremoto que destruiu Lisboa, em 1755, ganharam força as formas geométricas em estilo conhecido como Pombalino.

A Estética do Azulejo em Belém

E Belém? A nossa capital não fica atrás. Hoje – conforme escrevi lá no começo do texto – a estética do azulejo é uma tendência das mais elegantes.

Das estampas em camisetas aos casarões centenários; de apartamentos a alojamentos, hotéis e escritórios high-tech, as peças decorativas estão em todas: cozinhas, quartos, banheiros e onde mais a imaginação apontar. Afinal, quem não quer um design arrojado somado a conforto térmico?

Agora quando fores usar aquela camiseta bonita ou veres pelas paredes aquelas obras de arte, vais lembrar que tudo começou no Egito, foi para a Arábia, Espanha, Portugal, até que chegou às ruas de Belém.

*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.