Um dos concorrentes a Melhor Filme Internacional no Oscar, ao lado de “Ainda Estou Aqui”, já está disponível no Brasil, sem alarde, mesmo sendo um ótimo filme. “A Garota da Agulha” (2024) é a produção representante da Dinamarca na briga pela estatueta dourada e também concorreu à Palma de Ouro em Cannes (perdendo para “Anora”).
O filme do diretor Magnus von Horn é de difícil digestão, por tratar de temas ainda caros ao mundo atual, mesmo se passando logo após a Primeira Guerra Mundial, como a opressão das mulheres, dos trabalhadores e o aborto. Karoline (Vic Carmen Sonne, excelente) é uma costureira de uma fábrica em Copenhague, que é expulsa da pensão onde mora, está com o marido desaparecido na guerra e é abandonada grávida pelo amante rico. Como desgraça pouca é bobagem, a única pessoa disposta a acolhê-la é a dona de uma loja de doces (a veterana Trine Dyrholm, assustadora) que pode ter intenções não tão altruístas assim.
Em um primeiro olhar, lembra muito “Anora”, principalmente pelo conflito social entre elite e proletariado, mas Von Horn se aprofunda muito mais na psique sofrida da personagem, também pelo contexto da época. Mesmo diante de uma teia de sofrimentos que parece infinita, que divide a atenção do espectador, Karoline não parece se entregar, até ser exposta a um horror maior, que põe sua sanidade à prova. Nesse caso, evite ler mais sobre o contexto histórico do filme para evitar spoiler, já que é baseado em fatos reais.
Como esperado, é um filme com uma bela reconstituição de época e fotografia em preto e branco que casa com a proposta opressora dos ambientes por onde a personagem transita, que em alguns momentos chega a ser sufocante, muito espelhado no cinema feito pelo expressionismo alemão do século passado.
Mais que tudo, é a história de uma mulher que se recusa a ceder às maldades do mundo em volta, sendo capaz até de gestos de bondade para justificar a própria existência. Apesar dos exageros em planos sequências e ritmo lento na maior parte da trama, “A Garota da Agulha” se justifica como um bom drama e suspense (além de elementos do horror moderno), daqueles que podem traumatizar os mais sensíveis, mas que permanece forte pelas suas mensagens, apuro técnico e narrativas importantes. Vale a pena. O filme está disponível na plataforma Mubi.
Confira o trailer de A Garota da Agulha: