Bragança - Bragança mantém viva a tradição iniciada pelos escravos em 1798, com a festa de São Benedito, santo de origem etíope cuja igreja foi inaugurada por volta de 1750. Nela, se destaca a Marujada, folguedo constituído majoritariamente por mulheres, que saem pela cidade em homenagem ao santo, no mês de dezembro.
A festividade deste ano tem dois motivos a mais para celebração. “O marco referencial dessa data é importante pelos 500 anos de São Benedito, que foi celebrado na Itália. O segundo, foi muito especial o recebimento dessa certificação, porque reconhece o que a gente vive todos os anos, a gente já tem como patrimônio, como identidade cultural e agora vira algo do Brasil inteiro”, falou Dário Benedito Rodrigues, historiador e professor da UFPA Bragança.
O Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconheceu em setembro a Marujada de São Benedito como patrimônio cultural do Brasil. “O processo durou 13 anos. Teve apoio muito importante, que foi a emenda do senador Jader Barbalho, que ajudou a fazer o inventário pela Faculdade de História da UFPA Bragança”, disse Dário, citando passo necessário para o processo.
Nesse processo de patrimonização, foram reconhecidas outras Marujadas na região, nos municípios de Augusto Corrêa, Capanema, Primavera, Quatipuru, Tracuateua e Ananindeua, além de Bragança, que tem a festa mais antiga. “Bragança foi a referência, mas o dossiê contempla todos os grupos de Marujada”, lembrou Dário.
Após a patrimonização, agora o desejo é criar um plano de salvaguarda. “Nossa expectativa é construir o plano de salvaguarda, junto com os detentores, e junto com o Estado, que como governo tem que cuidar um pouco mais dessa manifestação, ampliar, divulgar, proteger e conservar”, destacou o historiador Dário.
“A partir da patrimonização, vamos manter ainda mais as tradições e os costumes da manifestação. E também focar no aumento da divulgação para que a gente possa levar a Marujada cada vez mais longe, além da ampliação no apoio à Irmandade de São Benedito. Este ano, a festividade é ainda mais especial para todos nós, bragantinos, por conta desse reconhecimento do Iphan que muito nos orgulha”, falou Vinicius de Oliveira, secretário de Cultura de Bragança.
As celebrações em torno de São Benedito começaram no último dia 18 de dezembro, com hasteamento do mastro de São Benedito e danças dos marujos e marujas numa alvorada festiva. Na sequência, foram cinco dias de missas, terços e novenas dedicados a São Benedito. Nesta terça, 24, véspera de Natal, as celebrações começaram às 18h30, com as ladainhas cantadas pelas comissões de esmolações, na Igreja de São Benedito. A partir das 19h, na frente da residência episcopal, foram realizados terço, novena e a Santa Missa de Natal.
Nesta quarta, 25, Dia de Natal, as missas começaram às 6h30 e seguiram ao longo do dia. Também no Dia de Natal, paralela à programação oficial da festa, há o show “Vou Cantar São Benedito”, em que o cantor e compositor bragantino, declarado devoto de São Benedito, apresenta cânticos beneditinos.
A festividade encerra no dia 26. Depois das missas, orações e ladainhas durante o dia, e do almoço oferecido pelo juiz da festa, às 16h está prevista a saída da procissão solene com a imagem de São Benedito. Após a missa campal na chegada, haverá apresentação da Marujada no Teatro da Marujada.
Segundo o professor e historiador Dário Benedito, a festividade de São Benedito é resultado da organização do associativismo negro e leigo, que fundou uma irmandade em 13 de setembro 1798. “Naquele período esses irmãos começaram a organizar os eventos que existem na festividade. O objetivo era celebrar o culto a São benedito, construir uma igreja e realizar a festa do santo”, acrescentou o professor.
E outros elementos culturais da época foram se agrupando à tradição, como: novenas, ladainhas, celebrações da esmolação, indo de casa em casa, recebendo donativos e ex-votos. Além disso, há toda a parte cultural das danças, muito importantes na manifestação, pois celebram o santo de maneira festiva, com ritmos, danças e vestimentas características, que com o tempo foram compondo a festa que é hoje.
A fama do santo de milagreiro, o recebimento das graças, fez com que as pessoas começassem a ter São Benedito como uma grande esperança, intercessor.