CINEMA

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Tim Burton prova que ainda sabe trabalhar com sua estética dos anos 80, com cenários oníricos, além de personagens esquisitos e deslocados

“Pensou que era quem? O Batman? . Foto: Divulgação
“Pensou que era quem? O Batman? . Foto: Divulgação

Há uma ironia fina no fato do diretor Tim Burton voltar a ter boas bilheterias e bons números com a crítica após retornar a um universo cinematográfico do qual ele está familiarizado. Até a publicação desta coluna, “Os Fantasmas Ainda se Divertem” (2024) já havia arrecadado 110 milhões de dólares no primeiro final de semana de lançamento.

Essa “volta às raízes”, com uma história que havia tornado Burton um diretor cult (lembrando que “Os Fantasmas se Divertem” virou um ícone da Sessão da Tarde e mora na memória dos fãs dos filmes dos anos 1980), fez bem ao diretor. Assim, ele pôde mostrar que ainda é um criador que sabe trabalhar com cenários oníricos, personagens esquisitos e críticas sociais nos subtextos.

O design de produção é ótimo, repetindo padrões do primeiro filme e a acrescentando novidades divertidas aos cenários pós-morte e à construção dos fantasmas, tudo feito com efeitos práticos (inclusive em stop-motion, reintroduzindo um personagem virtualmente pelas atitudes bizarras na vida real do seu ator). Falar da trilha do Danny Elfman também é chover no molhado, pois o compositor consegue emular bem o padrão de cinema dos anos 1980 e acrescentar alguns sons mais modernos com a competência habitual.

Como era esperado também, o elenco é parte primordial para a história descabida funcionar. Winona Ryder retorna confortavelmente ao seu papel antigo, assim como a veterana Catherine O’Hara. Jenna Ortega é uma espécie de adição “normal” à equação, como uma garota mais humana em meio ao cenário caótico proposto. Justin Theroux anda no limite da caricatura de vilão, enquanto Willem Dafoe aparece divertidíssimo como um ator morto metido a policial de filme canastrão.

Então, claro que o filme é de Michael Keaton. O ator parece que nunca retirou a maquiagem de Beetlejuice e mantém o mesmo espírito anárquico do demônio, entre maldades, tiradas machistas e piadas sexuais. Em meio ao clima ingênuo da produção até então, cabe a ele romper os limites que separam a obra da fantasia oitentista, mesmo que a narrativa não traga muitas novidades em termos de estrutura dramática.

Resumindo, “Os Fantasmas Ainda se Divertem” é um filme divertido, com todas as características “Burtonianas”, mas até por isso mesmo parece deslocado no tempo e contexto social. Fosse feito há 20 anos, poderia ser tão cultuado quanto o original.