É bem incomum encontrar exemplares de gêneros mais populares vindo de outros países, principalmente quando a maioria das obras são predominantemente americanas. Quando falamos de filmes de terror, aí a coisa é pior, com pouca divulgação ou espaços de exibição. Por isso, foi com curiosidade que assisti a “Infestação” (2023), uma película francesa que é uma mistura interessante entre “REC”, “Aracnofobia” e “Evil Dead – A Ascensão” e que conseguiu espaço nas programações dos cinemas de Belém.
Estreando em longas-metragens, o diretor e roteirista Sébastien Vanicek conta a história de um jovem da periferia que mora num prédio caindo aos pedaços (algo comum em parte da Europa) que, desiludido com a falta de perspectivas e a morte da mãe, vive vendendo tênis de marca e colecionando animais exóticos, incluindo uma aranha, que acaba fugindo. O problema é que o aracnídeo se reproduz rapidamente e cresce de tamanho exponencialmente.
Aqui, os animais são apenas subterfúgios para Vanicek tratar sobre a pobreza e a desilusão da juventude europeia com a vida e a economia. É interessante notar que mesmo naquele prédio deteriorado, uma rede de solidariedade se forma entre os moradores, situando os conflitos dos personagens até o início do ataque das criaturas. Ou seja, a narrativa não é original, mas traz elementos novos para as histórias de monstros gigantes, onde as criaturas são apenas elementos condicionantes de problemas já postos em perspectivas a partir dos destroços do capitalismo tardio na sociedade.
Mas é quando as aranhas começam a se multiplicar e matar, que os problemas do filme ficam evidentes. O diretor não consegue situar sua trama geograficamente ao espectador. Diferente de “REC”, por exemplo, onde nós conseguimos acompanhar a trama de acordo com o local onde ocorria, aqui é tudo muito confuso, com mudanças para corredores e salas sem muitos critérios, deixando quem assiste completamente confuso. Não ajuda também na experiência a fotografia ser tão escura na maior parte do tempo.
Além disso, o roteiro não entende a própria essência das criaturas, que agem de acordo com a conveniência da história (o ritmo de reprodução não faz o menor sentido e os chamados “pontos fracos” das aranhas modificam ao sabor do roteiro. De repente, elas passam a ter medo da luz sem que isso tivesse sido tocado anteriormente, por exemplo).
Falta ainda um crescendo dramático para justificar as ações dos personagens, que se limitam a correr de um lado para o outro, enquanto as coisas ocorrem. O final também é pouco explicativo e abrupto, principalmente para quem queria ver um embate com a gigantesca aranha original. Mesmo assim, não deixa de ser uma experiência curiosa e divertida, a não ser para quem tem medo desses animais. Aí é melhor passar longe.