Fábio Nóvoa

Divertida Mente 2: Velhos amigos

“Divertida Mente 2” é o sucesso que a Pixar estava precisando. Depois de uma série de relativos fracassos, a empresa subsidiária da Disney foi buscar nas suas origens o motor criativo para alavancar o novo campeão de bilheterias do cinema e que deve ser o primeiro, este ano, a ultrapassar 1 bilhão de dólares quando esta coluna estiver sendo publicada.

A boa notícia é que é, assim como o primeiro “Divertida Mente”, é um filme tocante e ainda muito criativo. A má é que o principal problema do filme está naquilo que era a maior força do antecessor: o roteiro.

Primeiro, por não trazer um senso de novidade que havia no original de 2015. Segundo que, para estabelecer as relações dentro da mente da Riley, as ações externas ficaram focadas em um espaço micro (um acampamento de jogadoras de hockey), cercado de situações e diálogos clichês, que justificariam as ações dos personagens mentais, quando (entendo eu) haveria outras situações típicas da adolescência que poderiam ser abordadas (uma nota ruim da escola, conflitos com os pais, gostos culturais, etc.). Como foi abordado, pareceu muito restrito a um estilo de vida americanizado.

E tem, claro, a narrativa circular que repete o plot do original, com os personagens precisando pegar um determinado elemento do ponto A ao B e voltar para o A, enfrentando diversos desafios da mente da menina.

Mas se faltou algo de inovador na narrativa da sequência, sobrou nos personagens originais, que permanecem cativantes. Os novos também conseguem transmitir características únicas, sempre relacionadas às personalidades, mostrando que quando se trata do design de produção, a Pixar continua dando show. E o mundo dentro da cabeça da protagonista também se mostra ainda fascinante, com metáforas visuais divertidas e adequadas, como o tal “abismo do sarcasmo”.

E não é difícil “embarcar” na aventura. Afinal, quem assistiu o sucesso de 2015 está familiarizado com aquele mundo e seus habitantes cheios de personalidades literais. Queremos ter contato de novo com a Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo, ao mesmo tempo que adoramos os “novatos” Ansiedade, Vergonha, Tédio e Inveja. Quem tem filho adolescente vai identificar muitas características comuns, não importa o espaço geográfico ou social.

Entretanto, o tilintar das caixas registradoras alto da Disney aqui esconde um perigo: dos executivos dispensarem a originalidade, por associarem ao desejo do público de revisitar obras já conhecidas. A própria proposta do “Divertida Mente” original é ser único, algo que a Pixar não pode abandonar, se ainda quiser um público cativo pelos próximos anos.

Legenda: Os personagens de Divertida Mente 2: crescer é complexo demais