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"Zoom" fala de acessibilidade e potencial das pessoas com deficiência

Deficiente visual desde o nascimento, Socorro se inspirou em tecnologias assistivas para compor “Zoom”, premiado pela Fundação Cultural do Pará. FOTO: DIVULGAÇÃO
Deficiente visual desde o nascimento, Socorro se inspirou em tecnologias assistivas para compor “Zoom”, premiado pela Fundação Cultural do Pará. FOTO: DIVULGAÇÃO

Texto: Aline Rodrigues

Discutir a deficiência visual a partir da dança é o que propõe “Zoom: espetáculo-instalação em dança”, que será apresentado neste sábado, 25, às 19h, no Espaço Cultural Fonte do Caranã, em Salinas, e no dia 03 de dezembro, às 18h e 19h30, no Espaço das Artes de Belém. As duas apresentações são gratuitas, sem necessidade de retirada de ingresso.

Idealizado e protagonizado pela intérprete criadora paraense Socorro Lima, o espetáculo iniciou circulação no último dia 18, com apresentação na cidade de Castanhal e encerra em Belém no dia 03 de dezembro. Como deficiente visual congênita, a artista se inspirou, para a montagem, em tecnologias assistivas para trazer para o palco a acessibilidade como princípio, pois o espetáculo transita entre a apresentação coreográfica e uma instalação sensorial.

“A coreografia vai surgindo no processo. Venho com três cenas: a primeira falando sobre as barreiras atitudinais; na segunda, trago a referência de barreiras arquitetônicas e como eu venho falando, por meio da dança, para ultrapassar essas barreiras arquitetônicas; e a terceira cena é quando venho construir a instalação, juntando as metodologias que fazem parte do meu aprendizado em sala de aula, quando comecei a dançar, e hoje uso com autonomia para os meus espetáculos”, detalha Socorro, que iniciou sua carreira como intérprete-criadora em 2007, no Grupo de Dança Passos para a Luz, hoje Cia de Dança Corpus Sensorialis.

Segundo a artista, a ideia do espetáculo surgiu após ela ter sido selecionada com o projeto “Tap zoom”, em 2021, pelo edital Itaú Cultural, chamado “Entre arte e acesso”, onde ela criou uma proposta coreográfica inspirada nos jogos eletrônicos que jogava na infância.

“A partir disso quis dar continuidade ao projeto, a essas acessibilidades que a gente traz na dança para pessoa com deficiência visual”, acrescentou ela, que com o projeto enfrentou muitos desafios para realizar o espetáculo, premiado pela Fundação Cultural do Pará (Prêmio FCP)

“Foram muitos desafios. Penso que, como pessoa com deficiência visual, não ter acesso arquitetônico, porque nós não temos espaço com acessibilidade em Belém, foi um dos desafios. Encontrar um espaço em que pudesse trazer esse processo. E também o capacitismo, porque nós passamos por muitos preconceitos. Eu, com baixa visão, às vezes indo para o ensaio ou fazendo os trabalhos, as pessoas não enxergam essa deficiência visual, então para mim, falar da deficiência visual é mostrar para as pessoas que nós somos capazes”, conta ela, que durante o seu processo criativo descobriu que a sua baixa visão alcança os desenhos da cena com a luz negra, que lhe dá autonomia para perceber os detalhes.

“Elas são descobertas, são trabalhos que iniciaram o meu processo metodológico, quando aprendi a dançar nos espaços com autonomia. Então, meu processo de aprendizagem foi com metodologias onde hoje trago para a cena, criando uma instalação no final do espetáculo, gerando um tour sensorial para que as pessoas com deficiência visual possam tocar, para que elas possam caminhar nesse espaço, e perceber o que foi criado”, adianta Socorro.

Já o figurino vem em contraste, com uma visualidade de preto e branco, simbolizando a tela do computador com o fundo preto e as letras brancas ampliadas que a artista usa no seu dia a dia. “Isso gerou o nome do espetáculo, que é Zoom, que é a forma que tenho de utilizar a tecnologia assistiva para poder ampliar o material que leio”, acrescenta ela.

Com o trabalho, Socorro quer levantar a discussão sobre a arte, a dança e o tempo que ela é trabalhada, pois lembra que o tempo não é o mesmo das pessoas sem deficiência.

“As pessoas sem deficiência precisam entender que nosso tempo não é o mesmo na construção de um processo de criação, precisamos encontrar como falar e pensar essa dança. Então, tem esse diferencial do tempo para que a gente possa executar o trabalho, não é um tempo igual aos outros artistas. Esse também foi o grande desafio, porque concorrendo com outros artistas sem deficiência, tenho que entregar tudo no prazo em que o edital me pede, sendo que nós não temos acessibilidade, nós começamos a criar meios para que a gente possa estar inserido”, destaca.

ASSISTA

“Zoom: espetáculo-instalação em dança sob o olhar da pessoa com baixa visão” – Com Socorro Lima
Quando:
Hoje, 25, às 19h.
Onde: Espaço Cultural Fonte do Caranã (Praça Fonte do Caranã – Salinópolis)

Quando: Dia 03/12, às 18h e às 19h30
Onde: Espaço das Artes de Belém (Trav. Tiradentes, 35 – Reduto)
Quanto: Gratuito – sem necessidade de retirada de ingresso